Vaticano cala fundador dos Legionários de Cristo por abusos sexuais
O Vaticano ordenou que o padre mexicano Marcial Maciel, de 85 anos, fundador dos Legionários de Cristo (um grupo católico considerado ultraconservador) e acusado de pedofilia, abandonasse todas as suas responsabilidades na instituição e se dedicasse a "uma vida discreta de oração e penitência, renunciando a todo o ministério público". O comunicado que anunciou a medida, ontem divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, segue-se à decisão da Congregação para a Doutrina da Fé, que teve em conta "a idade avançada do padre Maciel e a sua saúde frágil", para renunciar a qualquer "processo canónico". E refere que a decisão foi "aprovada" por Bento XVI, naquela que é a primeira decisão importante deste Papa sobre a matéria.
Pouco depois, os Legionários de Cristo indicaram aceitar "as directivas da Santa Sé com fé e obediência". Mas garantiam que Marcial Maciel tinha sido objecto de "um grande número de acusações" de abusos sexuais. O padre Maciel declarou-se sempre inocente e optou por não se defender, aceitando a disposição agora anunciada com "completa serenidade e tranquilidade de consciência".
A Congregação para a Doutrina da Fé, então presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger (actual Papa Bento XVI), recebeu desde 1996 acusações de pedofilia contra Marcial Maciel. Nove ex-membros acusaram Maciel de ter abusado deles entre os anos 40 e 60 do século XX. Mais tarde, outras alegadas vítimas juntaram-se às acusações. Em Dezembro de 2004, o padre renunciou a dirigir a organização e outro mexicano, Alvaro Corcuera, foi escolhido para sucessor.
Fundados em 1941, no México, os Legionários de Cristo estão hoje presentes em 20 países - a maior parte dos quais latino-americanos -, contando com 600 padres, mais de 2500 seminaristas e 65 mil membros. O grupo gere 12 universidades e conta com 92 centros de formação numa dúzia de países. O Papa João Paulo II atribuiu-lhes a responsabilidade de algumas instituições, entre as quais um centro de acolhimento em Jerusalém. Ao mesmo tempo, apoiou-se neste grupo para combater a influência dos teólogos da libertação na América Latina.
Reconhecido pelo Vaticano em 1965, o grupo trabalha em âmbitos como a educação, a acção social, as missões, a família, a comunicação social e a catequese. O grupo tem-se destacado pelo dinamismo na luta contra a influência dos novos movimentos religiosos na América Latina. PÚBLICO/Agências