Pippo Delbono grita contra os poderes
Artista italiano propõe "viagem pictórica e poética" no festival Imaginarius, na Feira
Pippo Delbono repete hoje, às 21h30, o espectáculo Urlo (Grito, em português) no âmbito do Imaginarius - Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira, no Largo do Rossio. O encenador italiano é uma das presenças mais fortes da sexta edição do evento, que termina amanhã, com uma peça que aborda o tema do(s) poder(es). "O ponto de partida é o poder, em muitos aspectos - político, militar, de conquista -, mas a ideia não é explicá-lo, mas sim sugerir, dar imagens. Não é uma narração, é uma viagem pictórica, poética", explica Delbono. "Urlo não é um espectáculo contra a espiritualidade, mas contra a religião como forma de submissão a um poder", acrescenta.
No espectáculo, 24 actores abordam este tema, acompanhados pelas melodias sacras e profanas da Banda da Cidade de Roma, pela voz da cantora Giovanna Marini e pela Banda Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira. Umberto Orsini, actor italiano, faz também parte do elenco.
Há duas componentes essenciais em Urlo, que recentemente foi apresentado no festival de Avignon. "Por um lado, é um espectáculo sobre a tradição, o sagrado; por outro, é a degeneração de tudo isso, quando se transforma em poder", confessa o autor. "Para mim, as palavras são muitos importantes. Urlo é o grito, todos os gritos" - os textos são traduzidos num ecrã.
Delbono trabalha com gente que foi encontrando "em lugares não ligados ao teatro" - grande parte deficientes mentais e sem-abrigo. Um deles, Bobò, viveu 45 anos no manicómio de Nápoles. "É interessante descobrir o que é genuíno na vida destes actores", refere o italiano, que hoje participa numa tertúlia sobre Inclusão Social nas Artes de Rua, onde estará a mulher-palhaço Teresa Ricou, na esplanada da Praça de Gaspar Moreira, às 17h00. Delbono, que já apresentou Silêncio, Raiva e Guerra no Centro Cultural de Belém, há três anos, regressa em Julho ao mesmo palco de Lisboa com Êxodo, integrado no programa do Festival de Almada.
Camuflagem urbanaNa edição deste ano, o Imaginarius apresenta a primeira parte de um projecto dedicado à camuflagem urbana, que será completado em 2007. Assim, o italiano Donato Sartori, escultor de máscaras, "preenche" vários edifícios - entre os quais a igreja matriz - com um material acrílico, criando uma espécie de teia urbana. Intitulado Máscaras Urbanas, o espectáculo é apresentado no centro histórico, hoje, às 21h30, e amanhã, à meia-noite.
O grupo francês Cacauhète regressa ao Imaginarius, com o espectáculo Contaminação n.º 3 - O Dinheiro (hoje e amanhã, às 21h30). O espanhol Markeliñe conta uma história de mineiros com Cárbon Club (hoje, às 23h30). Uma hora mais tarde, os funâmbulos Ramon Kelvin Jr. e Catherine Léger fecham o dia com Duo du Haut.
Amanhã, a partir das 23h, realiza-se a Grande Parada de Rua em Andas, com a participação de 270 alunos do 4.º ano do 1.º ciclo de escolas feirenses, mas também de companhias vindas do Togo, de França e da Bélgica.
Também amanhã prosseguem os espectáculos itinerantes da companhia portuguesa Maribomdo, de António Santos, o homem-estátua, e Bernardo, o malabarista, além de Mila Xavier e outros.
O 6.º Imaginarius encerra com um concerto pela banda francesa Les Balayeurs du Désert, na zona envolvente à piscina municipal, às 0h30.