História de uma "Real Barraca"
Por medo dos terramotos, o palácio começou por ser de madeira. Resultado: ardeu. Depois, reconstruído em pedra, nunca foi terminado. Em 1995 falhou por um triz a aprovação do plano de pormenor. O processo está agora outra vez em movimento
O "caso" do Palácio Nacional da Ajuda é o exemplo acabado das "obras de Santa Engrácia": perde-se no tempo. "Real Barraca", foi como em tempos o palácio se chamou - e quase parece, pela sua história até hoje, que quem lhe deu esse nome, o Rei D. José, em 1755, sabia exactamente do que falava.Chamou-lhe "Real Barraca" porque inicialmente foi de madeira. No terramoto de 1755, a família real ficou sem residência oficial (o Palácio da Ribeira ficava no Terreiro do Paço). D. José decidiu então instalar-se na Ajuda, zona menos afectada pelo sismo. E mandou fazer um palácio em madeira com medo de mais sismos. Foi na "Real Barraca" que D. José morreu, em 1777.
É certo que a "Real Barraca" não foi destruída por nenhum terramoto, mas por um incêndio, em 1795. No início do século XIX, foi decidido construir - já em pedra - o Paço da Ajuda. Só que as obras ficaram incompletas por via da fuga da família real para o Brasil.
Restaurada a independência, o palácio voltou a ser usado pela família real. D. Luís I tornou-o residência permanente em 1861. Na instauração da República, em 1910, era habitado pela mãe do Rei D. Carlos, D. Maria Pia.
Dito isto, rápida aceleração até ao passado mais recente. Em 1992, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) pediu ao arquitecto Gonçalo Byrne que fizesse o Plano de Pormenor Envolvente do Palácio Nacional da Ajuda.
Nessa altura já ao mesmo arquitecto tinha sido encomendado, mas desta vez pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), o projecto de fecho e remate do palácio. E as duas coisas fez, sob a dupla tutela tanto do Ippar como da CML, obra que concluiu em 1995. Em Novembro desse ano foi feito o obrigatório inquérito público. Obtiveram-se os necessários pareceres favoráveis. Mas o plano nunca seria enviado à Assembleia Municipal de Lisboa, razão pela qual nunca foi aprovado.
Depois disso, a CML decidiu pedir a Byrne uma actualização do plano, nomeadamente de forma a incluir também a reabilitação do Bairro 2 de Maio e a "articulação" entre a sua rede viária e a que estava pensada para o plano de pormenor ao lado, aquele que regulará o Pólo Universitário do Alto da Ajuda. É este o plano esta semana aprovado na vereação lisboeta e que seguirá agora para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. J.P.H.