O touro bravo mantém-se como uma cápsula do tempo
Chamam-lhe touro bravo, mas a personagem central das festas tauromáquicas em países como Portugal, Espanha ou México é um bovino domesticado (Bos taurus). "Não é um touro selvagem", diz Beja Pereira. Mas análises genéticas dos touros bravos da Península Ibérica (sobretudo de Espanha) revelaram de onde vieram os actuais touros de lide, o que é outra das novidades do trabalho desta equipa: "De todas as raças analisadas na Europa, a que tem maior número de mitocôndrias africanas é a do touro bravo."
Veio, então, de África? "É bem possível. O touro de lide tem uma grande parte da sua origem genética materna em África. É mais próximo dos bovinos africanos do que dos europeus", diz Beja Pereira.
Em 1944, um veterinário espanhol já dizia que os touros de lide teriam origem africana: "Mas defendia isto sem base científica quase nenhuma, de forma quase empírica. Do ponto de vista genético, [agora] é a primeira vez que se faz essa ligação."
E, enquanto outros bovinos domésticos foram seleccionados por causa do leite, da carne ou do trabalho, o touro bravo era-o por motivos comportamentais. Interessava que fosse agressivo e não atacasse para matar, mas para se defender. Com a revolução industrial, começaram a chegar mais bovinos do Centro da Europa à Península Ibérica, que se cruzaram com as vacas já cá existentes. Mas o touro de lide ficou um pouco de fora disso.
"É talvez a raça mais próxima do que eram os bovinos da Península antes da revolução industrial, porque não havia interesse em cruzar animais seleccionados para serem calmos e produzir mais carne ou leite com um touro bravo. Se tivesse possibilidades de remontar ao século XIX, diria que as raças que existiam na Península Ibérica seriam muito parecidas, em termos de contribuição genética, com o touro bravo", diz. "O touro bravo é uma cápsula do tempo." T.F.