O tropicalismo está entre nós

Tom Zé vem ao Porto tentar demonstrar que o tropicalismo tem raízes portuguesas. Para isso, concebeu um espectáculo propositadamente para o público luso. E que será também o primeiro do Festival Mestiço. É ver para crer, na Casa da Música. Alea Jacta Est. Por Nuno Corvacho

Tom Zé, um dos músicos mais originais e inclassificáveis alguma vez surgidos no Brasil, estará logo à noite na Casa da Música para a abertura do Festival Mestiço. O espectáculo que o artista brasileiro trará à Sala Guilhermina Suggia responde à solene designação de Tropicalia Jacta Est e foi concebido propositadamente para o público português. A ideia é demonstrar, ao longo do concerto, as origens lusas e medievais do movimento tropicalista. Ajudado pelos músicos Sérgio Caetano (voz, guitarra, violão e percussão) e Jarbas Mariz (bandolim e percussões), Tom Zé viajará entre o popular e o erudito para dar corpo a um evento em que a conversa será quase tão importante como a música propriamente dita. Com o seu ar excêntrico, a sua verve torrencial e a sua compulsão para o experimentalismo, o músico baiano será decerto um espectáculo dentro do espectáculo.
Oportunidade para desenterrar a essência de um tropicalismo em que, nos anos 60, também se destacaram nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. Mas, de todos eles, Tom Zé foi, sem dúvida, o menos bafejado pelos holofotes do sucesso comercial. Enquanto muitos dos seus companheiros de geração se tornavam em "monstros sagrados" da música brasileira, Tom Zé ia cultivando as suas idiossincrasias, alimentadas pela invenção de instrumentos (bem patente num álbum como Jogos de Armar) e por diversas ligações à vanguarda.
Em 1989, numa viagem ao Brasil, David Byrne descobriu Tom Zé e convidou-o para inaugurar a sua editora Luaka Bop. Desde então o artista brasileiro tem estado regularmente no centro das atenções da crítica musical norte-americana. Ele próprio, todavia, não parece levar-se demasiado a sério, pois foi ao ponto de declarar um dia: "Eu não faço arte, mas sim jornalismo falado e cantado".
O Festival Mestiço prosseguirá até ao próximo dia 13, com um programa diversificado em que a palavra de ordem é o cruzamento de culturas e géneros musicais.

MúsicaFestival Mestiço
Tom Zé
(Tropicalia Jacta Est)
PORTO
Casa da Música
Sala Guilhermina Suggia (sala 1)
22h00
Bilhetes a dez euros

Sugerir correcção