António Xavier Um investigador conhecido pelo rigor científico 1943-2006
Fundador do ITQB deixa um vasto trabalho na área da bioquímica e biofísica e formou dezenas de novos investigadores
António Xavier dedicou a carreira à bioquímica e biofísica e foi um dos fundadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), em Oeiras. Morreu no domingo, aos 62 anos, vítima de cancro, e o seu funeral foi ontem, em Lisboa. O Presidente da República, Cavaco Silva, referiu-se-lhe como "um dos maiores cientistas do nosso tempo". Quem acompanhou o seu percurso recorda uma invulgar perspicácia e um enorme rigor científico.Natural do Porto, António Xavier dividiu a sua licenciatura em Engenharia Química entre a Faculdade de Ciências do Porto e o Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, onde se formou em 1969. Três anos depois terminou o doutoramento na Universidade de Oxford, no Reino Unido, mas passariam alguns anos até fundar o ITQB, em 1986. Presidiu à instituição entre 1995 e 1999, foi catedrático de Bioquímica na Universidade Nova de Lisboa e publicou vários mais de 220 artigos científicos.
Miguel Teixeira, vice-director do ITQB, destaca "o grande rigor científico" de António Xavier, que conheceu quando fazia o doutoramento no IST, há 26 anos. Trabalharam juntos desde então, no ITQB, o que "era um enorme desafio, pelo seu grau de exigência, rigor e capacidade analítica", diz.
Uma das principais características do ITQB, a união entre diversas áreas, é atribuída a António Xavier. "Uma das suas apostas foi criar um grupo interdisciplinar, que juntasse a bioquímica, os métodos analíticos, a genética molecular ou a microbiologia."
António Xavier dedicou-se ao estudo do papel dos metais nos sistemas biológicos. "Existem imensas proteínas e enzimas que só funcionam se tiverem metais, como é o caso da hemoglobina do sangue, que se relaciona com o ferro", explica Miguel Teixeira. O fundador do ITQB estudou também a forma como os organismos fazem a transformação da energia que provém, por exemplo, da alimentação.
António Xavier foi também pioneiro da introdução da ressonância magnética nuclear (RMN), "uma técnica essencial para determinar a estrutura molecular das proteínas. E é graças ao esforço de António Xavier que o ITQB lidera actualmente a rede de RMN, que já está espalhada por todo o país."
O fundador do ITQB deixa ainda um outro legado: "A sua árvore genealógica." Miguel Teixeira calcula que cerca de 40 investigadores portugueses "descendam" de António Xavier, "uma personalidade inesquecível, com uma força e um dinamismo extraordinário". Dinamismo é também uma das palavras escolhidas por Arménia Carrondo, professora catedrática que trabalhou com António Xavier no ITQB desde a sua fundação. Destaca ainda "uma visão fora do comum e uma atenção enorme aos pequenos detalhes" e recorda sobretudo uma sugestão que fazia com frequência: consultar o travesseiro antes de resolver qualquer problema.
António Xavier foi distinguido com a Eurobic Medal, um galardão internacional que, de dois em dois anos, é atribuído a investigadores de mérito na área da bioquímica. A distinção ser-lhe-ia entregue na Conferência Europeia de Química Biológica, que irá realizar-se de 2 a 5 de Julho, em Aveiro.