Congresso internacional evoca centenário do bispo que Salazar forçou ao exílio
A iniciativa, que decorre na Casa Diocesana de Vilar, no Porto, não pretende apenas analisar o pensamento dessa figura maior do catolicismo do século XX português. O objectivo é "tratar temáticas que D. António abordou e que hoje desenvolveria se fosse vivo", disse ao PÚBLICO D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e um dos responsáveis pela organização.
Entre os temas a tratar estão a relação da Igreja com a realidade histórica e com o Estado, a cidadania, a democracia participativa ou a paz. "A forma como D. António fazia teologia política continua a ter hoje contextos desafiadores", diz Carlos Azevedo, referindo a actualidade de algumas das questões colocadas pelo antigo bispo do Porto nos seus inúmeros textos.
Uma das obras polémicas de Ferreira Gomes é Cartas ao Papa, livro publicado em 1982, após a visita do Papa João Paulo II a Portugal - a editar este mês em Itália e depois em França. Nele, o bispo trata temas como as armas nucleares, a diplomacia do Vaticano, a reconciliação, a vida religiosa, ou a canonização dos santos.
Sobre a diplomacia da Igreja, escreve Ferreira Gomes: "Não me parece contribuir para o bem da Igreja aumentar o seu aparelho diplomático nem acentuar o carácter diplomático da sua actuação". Mas as observações críticas do bispo ao modo de agir da Igreja são muitas e diversas, nos mais variados temas.
A obra foi pouco debatida em Portugal. "Não gostamos de enfrentar os problemas e não se pensam as questões que D. António levanta, porque elas inquietam", afirma Carlos Azevedo, a propósito do livro. Daí que o actual bispo auxiliar de Lisboa aguarde com expectativa a publicação do livro em Itália (onde será apresentado pelo cardeal Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz) e em França. A visão teológica de Cartas ao Papa será, no congresso, tratada pelo italiano Marco Salvati, responsável da edição italiana da obra.