Semanário Sol quer ultrapassar o Expresso em três anos
O seu slogan é "Um jornal como nunca se viu", mas as semelhanças com o semanário de Pinto Balsemão são evidentes
As comparações são incontornáveis: o Sol, o novo semanário liderado por José António Saraiva, tem muitos traços gráficos do Expresso e bebe no título da Impresa a inspiração para colunas de comentários, secções específicas e suplementos como o guia semanal. A organização da primeira e da última páginas, por exemplo, é muito parecida. Fica identificado o adversário: "Dentro de três anos, o Sol será o maior e mais influente semanário português." A intenção de Saraiva é, no final do primeiro ano de vida, estar a vender 50 mil exemplares por semana. Vai custar dois euros.Será publicado ao sábado e a sua estreia está marcada para 16 de Setembro, precisamente uma semana antes de o Expresso encolher para o formato berliner. O símbolo aposta em cores parecidas com as do jornal de Francisco Balsemão e o novo título quer conquistar leitores inconformados com este semanário, mas também jovens e sobretudo mulheres - "acreditamos que elas farão o boom de leitura de jornais nesta década".
A equipa será maioritariamente dissidente do Expresso e nela Saraiva vai fazer um forte investida durante o mês de Maio, para contratar pelo menos 15 pessoas. Alguns jornalistas e os estagiários (já receberam 400 currículos) passarão por um curso de formação em Junho. A equipa final deverá contar com 40 jornalistas no quadro, 20 colaboradores, 15 estagiários e 10 colunistas - "nomes muito fortes" que Saraiva não revela.
Apresentado sob o formato tablóide, o Sol não se assume como um jornal de jornalismo dito de referência, e quer piscar o olho a leitores das classes B e C. O próprio director diz ser "difícil defini-lo por ser tão diferente do que existe no panorama português". "Mistura jornalismo de referência com revistas. Tem riscos: pode ser um grande sucesso ou um grande flop. Estamos a calcorrear um terreno que nós conhecemos mal."
Embora José António Saraiva não se canse de repetir que este "não é um projecto contra o Expresso", a verdade é que o nome do semanário que o arquitecto dirigiu durante 22 anos foi ontem mais ouvido do que Sol, durante a apresentação do projecto, que durou duas horas, às centrais e agências de meios e à imprensa.
O slogan de lançamento do Sol é "Um jornal como nunca se viu". Mas basta olhar para a capa e percorrer diversas secções para se ficar com a ideia de que já se viu aquilo em qualquer lado. A explicação estará na equipa que projectou este grafismo, que é a mesma que o vai executar todas as semanas. "Felizmente. Porque já estamos todos fartos de jornais concebidos por consultores", diz o director. O logótipo, da autoria do pintor Pedro Proença, tem um sol no lugar do "o" e o risco da paisagem irá mudar de cor consoante as estações do ano (verde para a Primavera, azul, dourado e cinzento).
Além de José António Saraiva, a equipa directiva é constituída por José António Lima (director adjunto), Mário Ramires e Vítor Rainho (subdirectores, o primeiro também responsável pelo caderno principal e o segundo pela revista) - todos ex-Expresso. Os quatro, e ainda Manuel Reis Botto (consultor financeiro) e António Frutuoso de Melo (área jurídica), formam a estrutura accionista da empresa. O financiamento, que já está assegurado "a 100 por cento", é do Millennium bcp. O projecto envolve verbas na ordem dos seis milhões de euros.
Asfalto e outras rubricas
O Sol tem muita cor e aposta em artigos divididos em vários textos, para facilitar a leitura. O caderno principal abrirá com um plano Em Foco, que será o tema principal do jornal, e prossegue com rubricas como Semana a Limpo (assinada por Mário Ramires, juntando opinião e notícias), Investigação (cuja equipa será liderada por Felícia Cabrita, também ex-Expresso), política nacional, Portugal no Estrangeiro e Estrangeiros em Portugal, Obituário, Asfalto (página sobre a reconstituição de acidentes, que pretende ter um cariz educativo), Conversa na Prisão (uma secção inédita sobre casos de pessoas condenadas), Desporto, Intervalo (sobre society e moda), Coração ao Alto (questões de sexo), Doce Lar (dicas de decoração, animais e jardinagem), Televisão, Montra (novas tecnologias), Hipermercado Cultural (novidades de livros, DVD) e A Semana em Revista, assim como os cartoons de Cid.
Curiosamente, o nome Sol já foi um título anarquista da década de 40. Morreu poucos anos depois, tendo sido recuperado por Vera Lagoa nos anos 70, que editou apenas um número, já que o segundo apareceu com o nome Diabo.