AS DIFERENÇAS Feminismo de ontem e de hoje
Para as mulheres de hoje, o feminismo está por vezes fora de moda, é coisa do passado. As feministas veteranas observam, intrigadas, a jovem geração que parece encontrar a felicidade na maternidade e dispõe da pílula do dia seguinte nas enfermarias dos liceus franceses. Estão contentes, porque lutaram nos anos 1970 pelo direito a uma maternidade escolhida e, portanto, feliz. Mas ficam perplexas com as novas feministas, como a filósofa Sylviane Agacinski, que dizem da maternidade que é o "ponto de ancoragem" da identidade feminina. As primeiras combatentes dizem às mais novas que é preciso continuar a mobilização pelos seus direitos. Que extremistas americanos e europeus querem de novo recusar às mulheres o direito ao aborto. Que em tantas regiões do mundo as mulheres são humilhadas, torturadas, assassinadas, pelo simples facto de serem mulheres. Que, mesmo em França, em 2006, há mulheres nos subúrbios que sofrem o mais ignominioso machismo que as obriga a submeterem-se, para serem bem vistas, ou as condena como "putas" quando são insubmissas.
Um "novo feminismo" foi, de resto, invocado quando em França nasceu um movimento de defesa dos direitos das mulheres nos subúrbios, como um nome em jeito de programa, "Nem putas, nem submissas". Mas trata-se antes de mais de um movimento cívico, em que não tardou a aparecer, em filigrana, a mão da esquerda socialista. Atenção, porém, ao novo discurso feminista da vitimização das mulheres, adverte a filósofa Elizabeth Badinter. Esta tese "simplista" de uma "pretensa natureza feminina" fraca e passiva leva as mulheres "pelo caminho errado", fazendo-as regredir, afirma a filósofa. Badinter, que ainda participou nos anos 70 nos primeiros combates feministas, recorda a importância da frase de Simone de Beauvoir, ao dizer que "não se nasce mulher, torna-se mulher": a companheira de Jean-Paul Sartre colocava a questão existencialista do "ser humano que é o que faz, e que se define pelas suas escolhas", e de forma alguma a de uma pretensa "condição feminina" evocada pela nova geração de feministas.
A.N.P., Paris