Margarida Rebelo Pinto vs João Pedro George A princesa e o crítico
Ambos os autores têm novos livros à venda. Mas a polémica que os envolve continua.
A contestação à providência cautelar requerida pela escritora já foi apresentada
Quando chegou sexta-feira ao Palácio Valle Flor, o actual Hotel Pestana Palace, Margarida Rebelo Pinto já tinha à espera o seu séquito, como convém a uma princesa (nas palavras de adolescentes na sala). Estavam lá familiares, amigos e muitos fotógrafos e operadores de imagem que há anos acompanham a carreira desta escritora que continua a marcar os tops da literatura light portuguesa.Em clima de festa, Margarida Rebelo Pinto parecia já longe da polémica que a opõe ao crítico literário João Pedro George, que ontem apresentou a sua última obra, Não é Fácil Dizer Bem: Críticas, Obsessões e Outras Ficções (Tinta da China) na Livraria Bulhosa do Campo Grande, num ambiente bem diferente.
Rebelo Pinto e George estão envolvidos numa batalha jurídica por causa do livro Couves & Alforrecas, os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto (Objecto Cardíaco), em que o crítico faz uma leitura comparada dos oito livros anteriores da autora, concluindo, entre outras coisas, que ela repete e copia frases de uns para os outros. A 23 de Março, a escritora interpôs uma providência cautelar para evitar a publicação do livro, que chegou às livrarias no dia 4.
Rebelo Pinto acusa George de violar os direitos de autor, de personalidade e de propriedade industrial, já que o nome da escritora é uma marca (ver caixa).
"Não aceito insultos"Num palácio que foi residência de condes e marqueses, não houve lugar para Couves & Alforrecas até começar a apresentação de Diário da Tua Ausência, o nono livro que publica em sete anos, sempre com a Oficina do Livro.
Sem nunca se referir a João Pedro George, o editor, António Lobato Faria, fez questão de dizer que recebe bem críticas mas que não está disposto a aceitar que "se aproveitem do bom nome de Margarida Rebelo Pinto".
Antonio Sarábia, o escritor mexicano que apresentou o livro, também saiu em defesa de Rebelo Pinto para dizer que, no seu ensaio, João Pedro George usava "30 páginas para falar da obra de uma escritora que já assinou nove livros e sete a promover a sua tese". "A Margarida é jovem, bonita e escreve muito bem. É fácil de odiar", concluiu Sarábia.
Antes de falar sobre o novo livro, que define como "uma longa carta de amor que começou por ser verdadeira", Rebelo Pinto referiu-se à polémica das últimas duas semanas para dizer simplesmente: " Não aceito insultos".
Segundo o seu editor, Rebelo Pinto não pode falar sobre a providência cautelar porque "tudo está nas mãos da justiça". Lobato Faria não está preocupado com as consequências que terá nas vendas: "A Margarida continua a vender muito bem, Pessoas Como Nós [o último livro] vendeu 50 mil exemplares. Toda esta questão é um não-assunto". Não há ainda datas para uma decisão do juiz.
Válter Hugo Mãe, editor de Couves & Alforrecas, diz que a contestação à providência foi entregue na sexta-feira e admite, tal como Lobato Faria, que só lhe resta esperar. "Estou muito optimista em relação ao desfecho", acrescenta. "Não posso acreditar que uma violação destas à liberdade de opinião seja aceite."
A "liberdade e independência" com que João Pedro George faz crítica literária é, segundo Constança Cunha e Sá, o que o distingue. A jornalista, que ontem apresentou Não é Fácil Dizer Bem, não chegou a referir a polémica com Rebelo Pinto, mas não deixou de dizer que o crítico de 33 anos "não tem medo de enfrentar interesses instalados".
Neste novo livro, que reúne textos sobre diversos autores portugueses, crónicas e pequenas ficções, João Pedro George expõe-se também à crítica. "Não me limitei à posição confortável do crítico", disse ontem, defendendo em seguida que a literatura portuguesa do século XX é, em regra geral, "fraca": "Os nossos romancistas não têm imaginação, não sabem contar histórias".
O autor está "cansado" da repercussão que teve o seu último livro. "Estou farto que me reduzam e que reduzam o que eu faço à Margarida Rebelo Pinto", acrescenta. "Tenho visto o meu nome exposto de uma forma que não é correcta. Limitei-me a expressar uma opinião, sem insultos, sem ataques pessoais."