Torne-se perito

O leitor de música digital iPod tornou-se um fenómeno cultural

Em 2001, a Apple lançou um leitor de áudio digital do qual, passados cinco anos, já foram vendidos 42 milhões
de unidades

No ano passado, os editores do New Oxford American Dictionary escolheram "podcast" como a palavra do ano. Significa a disponibilização de programas de rádio através da Internet, mas o "pod" vem de iPod, porque o conceito foi criado na iTunes, a loja on-line de conteúdos multimédia da Apple. A nova palavra representa também uma nova cultura, onde não faltam clubes de fãs e acessórios para os 42 milhões de utilizadores personalizarem o seu iPod.Os novos conceitos associados ao iPod não se ficam pelo podcast. No Bridal Bargains, um guia norte-americano para ajudar a organizar casamentos baratos, é sugerido o iPod Wedding, ou casamento iPod. A ideia, que tem feito sucesso nos EUA, é pôr os noivos a tratar da banda sonora do seu casamento e a trocar o dinheiro que se paga a um DJ por um iPod. O efeito é o mesmo, dizem.
Quando o iPod chegou às prateleiras das lojas, em 2001, foi o primeiro leitor de áudio portátil digital com um disco rígido, na altura de cinco gigabytes (GB), uma capacidade que superava tudo o que havia no mercado.
Hoje, o iPod clássico tem duas versões, com 30 ou 60 GB, e o mais barato custa 319 euros. Para além disso, foram lançados outros dois modelos: o Shuffle, que é pequeno como uma caneta de memória que se liga ao computador, e o Nano, que foi lançado no ano passado, cabe no bolso da camisa e faz lembrar as caixinhas onde se guardam os cartões de visita. Este, na versão de dois GB, custa 208 euros. Também no ano passado foi lançado o iPod Vídeo, que é semelhante à versão clássica mas que permite ver os vídeos disponíveis na iTunes.
Na terça-feira, um artigo publicado no CNET News, um site dedicado às tecnologias, referia que o iPod levou muitas empresas a produzir acessórios e criou um mercado na ordem dos mil milhões de dólares. Atrás dos leitores vieram as capas, os auscultadores, ou os suportes e tudo isso ajudou a criar uma enorme legião de fãs.
Dois anos depois do iPod, em 2003, a Apple lançou a iTunes, que é hoje a maior loja de música na Internet, onde se podem descarregar ficheiros de áudio por 99 cêntimos. A quantidade de conteúdos disponíveis depende da iTunes a que se acede, uma vez que em cada país foi aberta uma loja diferente. Na iTunes norte-americana existem dois milhões de músicas, 3500 vídeos, 35 mil podcasts e 16 mil audiobooks, ou seja, livros cujo texto foi gravado em áudio e que agora podem ser ouvidos nos iPod.
A junção entre os iPod e a iTunes acabou por ser vital para a Apple, até porque esta optou por não disponibilizar a sua tecnologia de protecção anti-cópia e impediu que os ficheiros da iTunes pudessem ser descarregados para outros leitores de áudio portátil. Em resultado disso, os clientes da iTunes apenas podem copiar ficheiros para o computador, PC ou Macintosh, e para o iPod.
Essa medida da Apple começou a ser alvo de contestação quando, há duas semanas, o Parlamento francês votou uma proposta legislativa sobre direitos de autor. Nessa proposta era exigida a interoperabilidade entre os ficheiros da iTunes e os vários leitores de áudio portáteis, para além dos iPod. A Apple considerou que essa medida se traduziria em "pirataria patrocinada pelo Estado" e justificou com o facto de os iPod não deverem ser compatíveis com outros ficheiros de áudio que não estejam "adequadamente protegidos" quanto ao copyright.
Na quinta-feira, a Apple quis respondera uma outra polémica. Sem referir queixas dos consumidores, apresentou um software que permite reduzir o volume de som dos iPod para o máximo de 100 decibéis, uma forma de sossegar os pais dos jovens utilizadores.
O sucesso do iPod suscita paixões e consegue agregar comunidades de entusiastas de todo o mundo que se reúnem, por exemplo, no site iLounge. A comunidade de fãs portuguesa, por exemplo, foi inaugurada há um ano (ver caixa). Mas há também quem não goste do leitor da Apple e resolva manifestar-se em www.anti-ipod.co.uk, onde até se podem comprar T-shirts e canecas anti-iPod.
Ontem, um artigo publicado no site da revista Newsweek salientava que uma das questões principais está em saber o que fará a Apple para manter a sua posição dominante na área da música. Howard Stringer, chief executive officer (CEO) da Sony nos Estados Unidos, salientava que a Sony detém a marca Walkman, que vendeu 200 milhões de unidades. "Estamos a disputar este jogo", dizia.
O mercado da música on-line será também disputado pelos serviços que disponibilizam um número ilimitado de músicas por uma taxa mensal, como é o caso do Napster, que cobra 9,95 euros por mês aos utilizadores. Chris Gorog, CEO do Napster, afirmava mesmo que "o principal concorrente ainda nem está em palco."

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