O futuro da música pop sairá de uma grande Moulinex?
Encontro da série É a Cultura, Estúpido! no S. Luiz tratou de pastiches, homenagens e esgotamentos
No Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, Lisboa, falou-se muito de música pop, mas o tema inicial - o futuro da mesma - acabou por não ser o aspecto mais debatido quarta-feira à noite, em mais uma sessão da série É a Cultura, Estúpido!.Mas do que se avançou, o panorama não é animador. "Já está tudo inventado", e a pop será agora um local de homenagens, cruzamentos e pastiches, ou seja, "uma grande Moulinex" onde se mistura tudo e de vez em quando saem "uns salpicos criativos", disse o crítico musical João Lisboa (Expresso), que se juntou a Nuno Galopim (Diário de Notícias) e Mário Lopes (PÚBLICO), com moderação de Pedro Mexia.
A pop foi definida como "sempre efémera" e, longe da sua génese nos anos 60, como um grande chapéu-de-chuva funcional para arrumar discos em discotecas, para juntar tudo o que não seja jazz, world music ou clássica. E que, curiosamente, abrange já tanto os nomes que (cada vez menos) vendem milhões - Britney Spears, por exemplo - como os públicos cada vez mais minoritários. Para Nuno Galopim, a pop serve para perceber as novas visões e tendências.
Consenso geral para o futuro da pop a nível de formatos: o CD desaparecerá excepto para edições (como agora com o vinil) de coleccionador, "com laçarotes e atacadores de sapatos do artista", Lisboa dixit.
Da música portuguesa, e passados os nossos anos 80 que eram os 60 de lá fora, e os anos 90 numa série de equívocos (Mário Lopes), estamos numa fase de estagnação, e, segundo Nuno Galopim, "o sentido de visão" deverá vir das áreas do jazz, do instrumental, do fado, mas não ainda do rap, que não é "o balão de oxigénio da pop portuguesa", devido a um "excesso de verborreia".
Para Mário Lopes, "há uma série de gente não formatada" com futuro, mas não se encontram nos circuitos mais tradicionais, como o dos concursos, muito ligados às "máfias das câmaras municipais".
E, embora afirme que não é pessimista, João Lisboa refere que os ciclos dentro da pop - dado que já não há possibilidade de grande movimentos de génese exterior à música como o punk - são cada vez mais curtos. "O género humano não aprende, recicla; os disparates vão regressando cada vez piores." E lembra o cruzamento folk-psicadelismo dos anos 60 e que acabou nos actuais "ganidos de Devendra Banhart".