"É uma comunidade que aposta na estadia em Portugal"

Investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, José Mapril está a preparar a sua tese de doutoramento sobre os imigrantes do Bangladesh em Portugal e estuda a comunidade desde 2002. Por que é que Portugal se tornou um destino atraente para os bangladeshianos?
Inicialmente ninguém escolheu Portugal como destino final. Vieram à procura de oportunidades económicas na Europa, muitos trabalharam primeiro noutros países e acabaram por vir porque ouviram falar no processo de legalização. Em 1988 estavam registadas no consulado 40 pessoas e em 2005 já havia entre 3000 e 3500. Os bangladeshianos funcionam com base em redes de contactos muito alargadas, que passam palavra - são familiares, mas também amigos, e primos, amigos destes.
Há uma primeira geração que chegou nos anos 90, os pioneiros, que estão sobretudo no Algarve, Porto, Póvoa do Varzim e Lisboa (Costa da Caparica e Martim Moniz). Um segundo grupo chegou em 1996, com o novo processo de legalização, e a seguir a esse há a geração que veio em 2001. Enquanto os primeiros já trataram da reunificação familiar e já cá têm as mulheres, e até filhos nascidos em Portugal, os pós-2001 estão agora a tentar trazer as mulheres. Apesar de os que chegaram recentemente, em 2004, 2005 enfrentarem mais dificuldades, a estratégia dos bangladeshianos é claramente de fixação - estão a apostar na sua estadia em Portugal.
É uma comunidade sobretudo ligada ao comércio?
Tanto os que vieram no início dos anos 90 como os de 96 instalaram-se sobretudo no comércio. Inicialmente fazem muito o circuito de venda nas feiras, que é uma etapa muito comum antes de terem dinheiro para abrir um pequeno negócio, e depois um maior. A geração de 2001 está neste momento na fase de tentar abrir um pequeno espaço comercial, um quiosque, para começar. Mas também se encontram bangladeshianos a trabalhar fora destas redes de contactos da sua comunidade, alguns em empresas portuguesas. E há esquemas polivalentes, em que uma pessoa trabalha para uma empresa durante a semana e faz as feiras ao fim-de-semana, até juntar dinheiro para ter o seu negócio.
Há crianças nascidas em Portugal e outras que vieram muito pequenas e frequentam escolas portuguesas. Qual a relação delas com Portugal e com o Bangladesh?
Os pais (e há alguns que chegam cá com um percurso educacional já relativamente alto no Bangladesh) têm uma aposta clara na educação dos filhos, que passa por uma educação religiosa [islâmica], mas também pela secular. Os filhos mais velhos já falam completamente o português, mesmo os que não nasceram cá, e são elementos muito importantes porque fazem a ponte entre os espaços, o da família, onde sobretudo as mulheres não falam português, e o do país onde vivem.
Mas, mesmo tendo uma grande familiaridade com o contexto português, os filhos mantêm uma relação com o Bangladesh. É muito premente a preocupação dos pais para que falem a língua [bengali], vejam filmes do Bangladesh, ouçam a música, não percam a bengalidade. Não conheço nenhuma família bengali que em casa fale português. Mas quando conversam entre eles os miúdos oscilam entre o bengali e o português com enorme facilidade. A.P.C.

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