As Bonecas Russas A vida real é um caos... e agora?
Em 2002, Barcelona (Espanha) foi o ponto de encontro de um grupo de estudantes oriundos de vários pontos da Europa no filme L"Auberge Espagnole/A Residência Espanhola, um êxito inesperado do cinema francês. Três anos depois, o realizador Cédric Klapisch volta a dirigir esse jovem elenco numa "viagem" por três cidades europeias - Paris (França), Londres (Reino Unido) e São Petersburgo (Rússia). Les Poupées Russes/As Bonecas Russas centra-se novamente na personagem de Xavier, agora com quase trinta anos, e nas suas actuais peripécias profissionais e amorosas.Para Klapisch, a decisão de realizar uma sequela de A Residência Espanhola não foi imediata, mas antes surgiu naturalmente, conjugada com o desejo de trabalhar de novo com os actores e de reviver o prazer daquelas filmagens. Apaixonado por São Petersburgo, o realizador francês encontrou na cidade russa uma das ideias principais da sequela: o casamento de William (Kevin Bishop). E é esse o motivo que, no argumento, justifica o reencontro dos amigos de Barcelona cinco anos depois.
Romain Duris, que em 2005 foi também o protagonista de De Tanto Bater o Meu Coração Parou, interpreta desta vez um Xavier mais velho, que desistiu de uma carreira financeira para seguir o sonho de criança: ser escritor. Klapisch, com quem mantém uma forte cumplicidade, insistiu para que vissem juntos os filmes de François Truffaut com a personagem Antoine Doinel. "Queria que ele visse um actor interpretar a mesma personagem em diferentes épocas e que se apercebesse do que isso implicava", explica o realizador numa entrevista.
Outro regresso é o de Audrey Tautou, a eterna Amélie Poulain. A sua personagem, Martine, continua a desempenhar um lugar importante na vida de Xavier - além de ex-noiva, é a sua "consciência". Tem um filho pequeno, fruto de uma relação falhada, e Xavier é ocasionalmente o seu baby-sitter.
Profissionalmente frustrado procura mulher ideal
"Vou tentar organizar-me, escrevendo. Escrever é organizar as nossas confusões", conta a voz-off de Xavier no início do filme. Desde logo, alerta que não vai escrever por ordem, justificando os vários flashbacks que ocorrem durante o filme. Xavier está mais uma vez a viajar e tenta fazer um balanço da sua vida.
Profissionalmente, apenas consegue trabalhos precários - reportagens desinteressantes e biografias de celebridades incapazes de escreverem sobre as suas próprias histórias. O ponto alto da sua carreira é um trabalho como argumentista de uma telenovela mas, quando tenta ser original, os produtores pedem-lhe que recorra a clichés. Confrontado com a dificuldade de escrever esta história de amor, Xavier começa a questionar-se sobre a sua capacidade de viver uma história de amor. E a pressão aumenta devido ao avô nonagenário, que repete insistentemente a pergunta "Quando me apresentas a tua noiva?"
Procurando arrumar mentalmente (e no papel) as várias relações que manteve ou mantém, como se as separasse em caixas - daí, em parte, a alusão no título às bonecas russas -, Xavier confessa o caos da sua vida amorosa, marcada por diversos one night stands, paixões loucas e "amores à primeira vista". Frustrado, não sabe se alguma das mulheres da sua vida seria "a" mulher da sua vida e a necessidade de encontrá-la começa a tornar-se urgente (o relógio biológico aproxima-se da casa dos trinta).
Em São Petersburgo, a noiva russa de William (Natacha/Evguenya Obraztsova) apresenta-lhe a rua das proporções perfeitas e Xavier encontra aí a metáfora para a sua mulher ideal. Será que vai conseguir encontrá-la? Será que essa mulher existe?
As imagens e os diálogos desta reflexão sobre o amor e a mulher ideal (a pequena boneca russa que descobrimos depois de abrir todas as outras) é completada com a música do ex-DJ Loïk Dury, que permite às personagens partilharem os seus sentimentos com o espectador sem recorrerem às palavras. E, durante o genérico final, é a música que dá uma das respostas possíveis às perguntas de Xavier : "There was no cure and there is no cure".
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