Torne-se perito

MOQTADA AL-SADR O CONQUISTADOR

Temido e respeitado por muitos, o jovem radical dono de uma pesada herança religiosa foi quem melhor soube
ocupar o vazio
aberto há três anos

Apesar do apelido, o seu nome era quase desconhecido há três anos. Dois dias antes da queda oficial de Bagdad, os seus partidários entraram no maior subúrbio da capital, ocupando esquadras e limpando stocks de armas. E quando a estátua do ditador foi derrubada, o bairro de dois milhões já tinha sido rebaptizado em homenagem ao seu pai, Mohammed Sadek al-Sadr. Moqtada, então apenas um jovem estudante de jurisprudência islâmica, ganhava uma mesquita onde liderar orações. Agora os jornais americanos chamam-lhe kingmaker, rótulo que nos últimos tempos alterna com o de campeão dos pobres ou suspeito de assassino.Moqtada al-Sadr teria entre 30 e 33 anos quando o regime de Saddam Hussein caiu. Continua ser um jovem pelos padrões da política ou da liderança religiosa, mas transformou-se, nas ruas ou na nova Assembleia, no líder de um movimento que entre o caos do Iraque de hoje é talvez o mais incontornável.
Esteve nos dois momentos que mais marcaram a situação actual: através dos seus apoiantes eleitos pela coligação xiita, exigiu que Ibrahim al-Jaafari fosse nomeado primeiro-ministro, o que conseguiu apesar de isso desagradar a quase todas as formações políticas; uma semana depois, foram os membros da sua milícia, o Mahdi, a encabeçar as retaliações ao atentado contra a Mesquita Dourada de Samarra.
"Nós somos como o Hamas. Vamos empunhar armas e não comprometeremos o nosso direito à resistência, mas também vamos ajudar as pessoas e ganhar eleições", explicou recentemente ao Christian Science Monitor o estratega político do movimento, Abbas Rubaie.
Nos últimos três anos, Sadr foi acusado de assassinar rivais, combateu com os americanos, mas também a hierarquia de Najaf ou as brigadas Badr, do maior partido político xiita, ganhou admiradores entre os sunitas, e expandiu a rede social que herdou do pai - assassinado, como outros familiares, às ordens do regime de Saddam.
Pelo caminho, e enquanto os seus homens, dentro e fora das novas forças de segurança, perseguiam e assassinavam iraquianos com ligações ao Partido Baas, os seus representantes começaram também a aplicar rígidas regras nas zonas que caiem dentro do seu controlo. "Eles operam tribunais de sharia [lei islâmica] em Sadr City. É quase um estado dentro de um estado", resumia em Fevereiro ao New York Times um responsável ocidental em Bagdad.

"Zero margem de manobra"
"No início não estava seguro em relação a Moqtada, mas tal como aconteceu com o pai, os nosso inimigos combatem contra ele. Isso prova que está no caminho certo", explicava um apoiante, Ali Yassawi, em Abril de 2004, na primeira das duas vezes que Sadr apelou à revolta contra os estrangeiros. Os americanos fizeram-lhe frente e esmagaram as duas rebeliões, mas nunca se aproximaram de Sadr.
Moqtada "agora é um poder que afecta a todos, não apenas os xiitas", dizia em Fevereiro Aref Taifour, o porta-voz da bancada curda do parlamento cessante. O discurso e as acções contra os EUA valeram-lhe o respeito dos sunitas, a comunidade que mais se insurgiu contra a ocupação. Terá começado a perder esse capital quando os seus homens atacaram mesquitas sunitas e nelas içaram bandeiras negras do xiismo, em Fevereiro.
O jovem líder desmentiu sempre o seu envolvimento nestes ataques, que continuaram a par dos seus apelos à calma. Na primeira sexta-feira depois do atentado em Samarra, 20 mil dos seus apoiantes gritaram apelos de unidade durante as orações em Bagdad, enquanto em Bassorá os seus representantes culpavam o Executivo pelo atentado contra o santuário xiita, afirmando que aconteceu "porque o Governo não se importa, porque segue o que a América quer e nada mais conta".
"Sadr é possivelmente a maior fonte de frustração para os EUA", descreve um diplomata europeu citado na última edição da revista Time. "[O embaixador Zalmay] Khalilzad sabe que ele é potencialmente a maior força de desestabilização na política iraquiana, mas os americanos têm zero margem de manobra com ele." A acreditar pela escolha de Jafaari para primeiro-ministro, os diferentes grupos políticos iraquianos também. Sofia Lorena

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