Pai científico da ovelha Dolly pode não ser Wilmut
Cientista admitiu que a autoria principal do trabalho de investigação pertence a outro colega
Quem é o principal pai científico da famosa ovelha Dolly? Até há poucos dias, a resposta era Ian Wilmut, que, na altura da clonagem da Dolly, dirigia um grupo de investigação no Instituto Roslin, em Edimburgo. Mas, na semana passada, Wilmut reconheceu que a autoria principal do trabalho que culminou, a 5 de Julho de 1996, no nascimento da Dolly, o primeiro mamífero clonado a partir de uma célula adulta, é de Keith Campbell. Wilmut, agora na Universidade de Edimburgo, fez estas declarações em tribunal: um antigo investigador do instituto, o indiano Prim Singh, pôs uma acção judicial contra Wilmut, acusando-o de discriminação racial e intimidação. Quando o advogado de Singh lhe perguntou se a afirmação "não criei a Dolly" estava correcta, Wilmut respondeu "sim", relata o jornal The Guardian. E disse que Campbell é o autor, em 66 por cento.
Mas Wilmut também deixou claro que era ele quem supervisionava o projecto, um trabalho que "não é trivial", embora não tenha desenvolvido a tecnologia nem feito as experiências.
Singh já tinha dito que Wilmut se apropriava das ideias dos outros, refere o jornal Daily Telegraph: "Não teve a ideia da Dolly e não fez a experiência. Está bastante contente por ter ficado com todos os louros."
Quem assinou em primeiro lugar o artigo a anunciar a Dolly, na revista Nature a 27 de Fevereiro de 1997, foi Wilmut, que, é claro, ficou famoso. Campbell era o último, um lugar reservado ao coordenador de uma equipa, segundo as regras implícitas na comunidade científica. O primeiro autor é o que mais trabalha.
O Guardian diz que a forma como Wilmut tratou do caso Dolly foi a razão por que Campbell se mudou, em 1997, para uma empresa.
Mas Richard Henderson, do Laboratório de Biologia Molecular, em Cambridge, não vê nada de mais no caso. "Não tenho qualquer razão para pensar que Wilmut fez algo errado", disse à revista The Scientist, acrescentando que muitos cientistas seniores ocupam o tempo a coordenar a investigação e a escrever artigos, mas o trabalho "é frequentemente feito por outros".
Já Angelika Schnieke, na altura a fazer o doutoramento e que assina o artigo em segundo lugar, diz que Wilmut não devia ter sido o principal autor. Segundo a cientista, agora na Universidade de Munique, houve uma discussão para decidir quem seria o principal autor. Wilmut "queria ser o primeiro" e os outros autores concordaram, contou. A Dolly, morta em 2003, para pôr fim a uma doença pulmonar, continua a dar que falar.