Slobo terá tomado remédios que lhe agravaram a saúde

Médico holandês suspeita que Milosevic tentava deteriorar o seu estado de modo a ir para a Rússia

O médico holandês Donald Uges afirmou ontem que encontrou no sangue de Slobodan Milosevic vestígios de um medicamento que poderá ter reduzido a eficácia de outros remédios tomados pelo antigo Presidente jugoslavo. Uges sugeriu que Slobo tentava assim piorar o seu estado de saúde com o objectivo de viajar para a Rússia - onde vivem a sua mulher e filho.Uges disse que encontrou vestígios de rifampicina, um antibiótico usado para tratar lepra e tuberculose, que dificulta a acção de outros medicamentos que o paciente esteja a tomar, e que não tinha sido receitado ao ex-líder sérvio em análises feitas há duas semanas com sangue recolhido no início deste ano.
A ideia de Milosevic, que aguardava o desfecho de um processo em que era acusado de 66 crimes de guerra e genocídio, seria declarar os médicos holandeses incompetentes para tratar os seus problemas de coração e de hipertensão, alega Uges. "Primeiro, começou por não tomar os medicamentos. Depois foi forçado a tomá-los sob supervisão e a sua tensão não descia", contou.
Em Janeiro, concluiu-se que a explicação mais provável era a de que Milosevic estaria a tomar drogas que inibiam os efeitos da medicação para fazer baixar a tensão. Uges relatou que levou a cabo testes mais sensíveis, numa amostra de sangue retirada no início do ano. A autópsia confirmará eventuais vestígios da substância no sangue na altura da morte.
"Tenho a certeza de que ele tomou os remédios, porque queria um bilhete só de ida para Moscovo", comentou Uges.
O resultado preliminar da autópsia diz que a causa de morte de Milosevic foi enfarte de miocárdio. A Rússia afirmou que não confia nestes resultados e pediu para enviar médicos para analisarem as informações recolhidas durante a autópsia. O Ministério dos Negócios Estrangeiros em Moscovo confirmou ter recebido uma carta de Milosevic, em que este se queixa de "tratamento médico não adequado". Milosevic tentava receber tratamento na Rússia - um pedido que, em Fevereiro, foi recusado pelos juízes do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia em Fevereiro. O TPIJ temia que Slobo não voltasse a Haia.

Tadic acusa TPIJO Presidente sérvio, Boris Tadic, afirmou ontem que a credibilidade do tribunal internacional foi manchada pela morte de Milosevic - morte pela qual o TPIJ é "parcialmente culpado", considerou.
O antigo líder sérvio é já o sexto acusado por crimes de guerra nos Balcãs a morrer em Haia. Ainda assim, Tadic diz que Belgrado vai entregar outros suspeitos.
"Sem dúvida, Milosevic precisava de um maior nível de cuidados de saúde", afirmou Tadic numa entrevista à Associated Press.
"Infelizmente, hoje recebemos mensagens do tribunal dizendo que não são responsáveis. Mas eu acho que são", afirmou Tadic, cujo partido liderou uma revolta popular que derrubou Milosevic em 2000.
No diário britânico Financial Times, o analista Quentin Peel argumenta que do processo contra Milosevic em Haia se podem tirar lições para futuros tribunais de crimes de guerra. Peel lembra que o contraste com outro processo actual, o julgamento de Saddam Hussein, no Iraque, não poderia ser mais forte - um levado a cabo por actores internacionais com relatos detalhados, quase 300 testemunhos e 5 mil provas; outro com menos acusações para simplificar; ambos falham no alvo de obter um processo percebido como justo e credível.
Peel cita Richard Dicker, da ONG Human Rights Watch, salientando que uma combinação de juízes nacionais e internacionais, como no caso do tribunal para os crimes na Serra Leoa, seria mais eficaz.

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