Silêncio e lenços brancos
Os Super Dragões fizeram um miniboicote. Começaram de costas voltadas, saíram indignados
Foram dez minutos bem contados. Os Super calados, o Estádio do Dragão sem força, os Red Boys endiabrados, em maioria absoluta durante dez minutos. "Vamos apoiar a equipa do primeiro ao último minuto", garantira Fernando Madureira ao PÚBLICO, pouco antes de o jogo começar. Lá dentro, onde manda ele (celebrizado pela alcunha de "Macaco"), houve mudança de planos. Megafone pousado, bandeiras enroladas, a principal claque do FC Porto de costas voltadas - para o jogo, mas principalmente para a SAD do FC Porto. Durante dez minutos, os Super Dragões fizeram a diferença.Ontem, passaram menos Super Dragões pelas portas 7, 8 e 9, estiveram mais Super Dragões no café Porta 29. Ficou mais vazia a superior-sul e mais cheias as cadeiras em frente aos plasmas sintonizados na SportTV. Mais coisa menos coisa, o corte de relações entre a SAD portista e os Super Dragões deu nisto: menos mil adeptos-Super e um miniboicote. "O clube não tem culpa do que se está a passar", dizia o líder Fernando Madureira, que por isso mesmo procurou recrutar o máximo de efectivos para o sítio do costume. "É o nosso ninho, o nosso habitat natural". O FC Porto dificultou a aquisição de bilhetes, mas os Super desenrascaram-se. O FC Porto "não queria deixar entrar" os acessórios da claque, mas a PSP "entre aspas obrigou" o clube a ceder. Com receio de desacatos, a polícia fez um acordo: as bandeiras entram, mas nada de confusões lá dentro. "Demos a nossa palavra de honra".
"Há sempre meia dúziaque estraga tudo"
À entrada, os adeptos, os outros adeptos, foram o tribunal dos Super, principais suspeitos do "atentado" a Co Adriaanse. "Foi organizado, mas não podemos ter a certeza que foi a claque", disse Manuel Almeida. José Pinto chama-lhe "uma malandrice". Aires Oliveira, "sócio há trinta e tal anos", tem outro nome: "Desordeiros. Há sempre meia dúzia que estraga tudo. Sou contra". "A maior parte dos sócios está conta o treinador, mas o problema não se resolve assim. Que autoridade tenho eu para lhe dar cabo do corpo?", questionou Serafim Saraiva, há 44 anos com o seu cartão. "Antigamente éramos o tribunal... saíamos do estádio roucos..."
Os Super entraram pouco depois pela Porta 8. Durante o jogo, portaram-se bem. Coordenados, ordenados. Não viram as bolas ao poste, estavam em greve de zelo, viram o resto. Quase tudo normal. O relvado foi regado, a fotografia de Co Adriaanse foi assobiada, os Super estavam de costas. Durou dez minutos. Depois, mediram forças com a claque de vermelho (o núcleo que mais elementos levasse tinha direito a uma bandeira do Braga paga pela direcção). Os adeptos normais sentaram-se, levantaram-se para insultar Paulo Santos e Bruno Paixão, tiraram a custo as mãos dos bolsos quando Adriano pediu. Lucho marcou o golo, a meia dúzia de metros do 12.º jogador. João Tomás empatou lá ao fundo. Lenços brancos. Os Super assumem a responsabilidade.