Preservação dos vestígios de Bracara Augusta começou há três décadas

Codep, antecessora da Aspa, foi o "braço armado" da universidade na luta contra as ameaças às ruínas romanas

Álvaro Cameira Henrique Barreto Nunes
Eduardo Pires Oliveira
Rigaud de Sousa
Egídio Guimarães
Mendes Atanásio
Artur Norton

À excepção deste último, os seis restantes também criaram a Aspa, aos quais se juntaram Francisco Alves, Rosado Correia, Amadeu Carvalho e Roberto Leão. Há trinta anos, o riquíssimo legado histórico de Bracara Augusta estava a ser rapidamente destruído pela expansão urbanística da cidade de Braga, em especial no Alto da Colina da Cividade (também conhecida por Maximinos). Mas um punhado de sete cidadãos associou-se à unidade de arqueologia da recém-criada Universidade do Minho (UM) e fundou a Codep (Comissão de Defesa do Património) - conseguindo assim travar parcialmente a perda dos vestígios romanos. Menos de um ano depois, deste embrião nascia a conhecida Aspa (Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Natural e Cultural) - que tantas batalhas tem travado, nomeadamente com o poder autárquico, personficado em Mesquita Machado, que preside à câmara desde essa altura. Ontem, três décadas de luta foram evocadas, com os olhos postos no futuro.
"Nós nunca desistimos. Nós resistimos". Foi desta forma, citando o poeta Manuel Alegre, que Henrique Barreto Nunes (director da Biblioteca Pública de Braga e membro da direcção da Aspa) sintetizou estas três décadas - a Codep foi fundada em 3 de Fevereiro de 1976 -, alvitrando que a "utopia não é o impossível, mas apenas o que nunca foi feito". No auditório do Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa, meia centena de pessoas aplaudiu convictamente. Uma plateia ideologicamente muito matizada - à excepção do PS mais oficial afecto ao presidente da câmara, Mesquita Machado, que considera a Aspa um autêntico partido da oposição -, como sempre tem feito questão de acentuar a associação, ao dizer que tem filiados que vão desde a extrema-esquerda até à extrema-direita.
Ao historiar o curto, mas intenso, percurso de intervenção da Codep, Barreto Nunes fez, contudo, questão de colocar a UM no centro da luta pela preservação das ruínas romanas de Bracara Augusta - consideradas por uma "prestigiada" revista inglesa da especialidade, em 1970, como "um dos mais integrados locais de ocupação romana", onde deveria ser feita uma aprofundada investigação. Depois dos primeiros alertas provindos do cónego Arlindo Ribeiro da Cunha, ainda antes do 25 de Abril foi aprovada uma zona de protecção dos vestígios da cidade de Braga. Mesmo assim, nomeadamente na Colina da Cividade, esta determinação "não foi respeitada" e as urbanizações prosseguiram.
Nesse contexto, o então reitor da UM, Loyd Braga, enviou ao Governo um relatório sobre a situação, elaborado precisamente por Barreto Nunes, que levou ao embargo das obras. Entretanto, um "grupo de sete cidadãos" resolve criar a Codep - para funcionar, reconhece o director da biblioteca, como "braço armado" da acção da UM. Por causa da "pressão exercida" por estas entidades, o Governo decide criar o campo arqueológico de Braga e o primeiro-ministro, Mário Soares, garantiu que "não mais se construiria sobre as ruínas romanas" da cidade - o que não veio a ser "totalmente verdade", pois "continuou a destruição criminosa" na Cividade, notou Barreto Nunes.
Na semana passada, a Aspa deu voz pública a mais uma batalha, desta vez em defesa da preservação da sala egípcia - existente na sede do Sindicato do Comércio, em Braga, e que a associação receia que venha a ser destruída ou esquecida com a iminente transferência de instalações desta estrutura sindical. E ontem foi apresentado mais um número da revista Mínia, agora dirigida pelo investigador Eduardo Pires Oliveira, em que se reproduz um texto do seu anterior director, José Moreira, sobre este bar inaugurado em 1937 e pintado com motivos da época dos faraós. "A egiptologia está a despertar crescente interesse em Portugal", frisou o arqueólogo Sande Lemos, na apresentação desta revista da Aspa, precisando que tem havido vários cursos em Lisboa sobre esta época. O que, admitem responsáveis da Aspa, pode abrir novas perspectivas para o futuro da sala egípcia de Braga - exemplar único em todo o país.

Sugerir correcção