Torne-se perito

Feynman foi o cientista que descobriu as causas do acidente

Um físico famoso, Richard Feynman, um copo de água com gelo e um pedaço da borracha usada para selar as juntas dos foguetões de combustível sólido do Challenger foram os ingredientes da demonstração televisiva sobre as causas do acidente do vaivém feita por Feynman. A 3 de Fevereiro de 1986, o Presidente Ronald Reagan nomeou uma comissão de inquérito. Feynman, Nobel em 1965, famoso e carismático, foi convidado a integrá-la, mas estava relutante, porque sofria de cancro (morreu em 1988, aos 69 anos). Mas aceitou e foi saber tudo sobre os vaivéns.
São lançados por dois foguetões de combustível sólido e, ao centro, vai um tanque de combustível líquido. Concebidos e construídos pela empresa Morton Thiokol, são compostos por secções cilíndricas, unidas e seladas nas juntas com anéis de borracha. "A finalidade dos anéis é impedir os gases quentes da combustão de se escaparem do motor [e queimarem o tanque externo com hidrogénio]", diz-se em The Mammoth Book of Space Exploration and Disasters, de Richard Lawrence.
Feynman descobriu que, aos zero graus Celsius, a borracha dos anéis deixa de ser elástica. No dia de lançamento do Challenger, estavam zero graus. Para testar a sua hipótese, arranjou um bocado da borracha das juntas e um torno. Comprimiu com ele a borracha e mergulhou-a num copo de água com gelo, até a temperatura baixar aos zero graus. Depois, tirou-a da água e desapertou o torno, mas ela continuou comprimida.
Feynman não queria que a sua descoberta fosse ignorada, por isso apresentou-a em directo na televisão. O impacte não podia ter sido maior. Também descobriu que as probabilidades de um vaivém falhar são uma em 100, e não uma em 100.000, como dizia a NASA, acusando-a de jogar à "roleta russa" com os astronautas.
Os gestores da NASA já sabiam que os anéis de borracha davam problemas, pois em Agosto de 1985 foi apresentado um historial detalhado sobre a sua erosão pelos gases quentes do foguetão.
"Nem a Thiokol, nem a NASA esperavam que as vedações de borracha fossem atingidas por gases quentes do motor, quanto mais queimadas. Porém, à medida que os testes e os voos confirmavam os danos, a reacção foi considerarem esse risco aceitável. Em nenhuma altura, os gestores recomendaram que as juntas fossem redesenhadas ou que se mantivessem os vaivéns no solo até o problema estar resolvido", diz-se em The Mammoth Book.
E se a NASA ou a Thiokol tivessem feito uma análise cuidadosa ao desempenho dos anéis, teriam visto uma correlação entre as baixas temperaturas e danos na borracha. Desde deste acidente, os vaivéns não partem quando estão menos de oito graus.
Por outro lado, quem tomou a decisão de lançar o Challenger desconhecia o historial de problemas dos anéis e uma recomendação inicial escrita pela Thiokol contra o lançamento de vaivéns com temperaturas baixas.
Além disto, as fragilidades nos anéis encontraram terreno fértil para a tragédia na pressa da NASA em lançar o vaivém. A missão anterior de tinha sido adiada várias vezes e havia pressões para que o Challenger estivesse no espaço nessa noite, quando Reagan fizesse o discurso do estado da União. "O tópico principal de Reagan seria a educação e esperava-se que referisse o vaivém e a primeira professora no espaço", diz ainda o livro. T.F.

Sugerir correcção