Motor de busca Google admite autocensura de palavras sensíveis na China
Justificações avançadas pela empresa de São Francisco não impedem protestos
A Google, que detém o maior motor de busca da Internet, vai bloquear palavras ou expressões politicamente sensíveis no seu novo site na China, cedendo a condições de Pequim para entrar no segundo maior mercado mundial da Net.As concessões admitidas na terça-feira pela empresa norte-americana com sede em São Francisco, e à beira de lançar o seu site chinês, são semelhantes às decisões de autocensura já tomadas na China pela maioria das empresas domésticas ou multinacionais.
Na realidade, gigantes chineses da Internet como a Sohu e a Baidu, tal como os sites chineses operados pela Yahoo e pela Microsoft, já bloqueiam buscas de termos politicamente sensíveis como Falun Gong (a seita religiosa) ou a independência de Taiwan.
A Google disponibiliza desde há muito uma versão em chinês do seu serviço Google.com. O que se passa agora é que o serviço será disponilizado a partir da China com o sufixo local ".cn", depois de, em 2005, lhe ter sido concedida licença para tal. Os utilizadores serão notificados das restrições. A Google também informa os que consultam os seus serviços alemão, francês e norte-americano, quando bloqueia acesso a material como sites nazis na Europa.
"Para podermos operar a partir da China, retirámos alguns conteúdos dos resultados de busca disponíveis em Google.cn, de acordo com as leis, regulamentos ou políticas locais", lê-se num comunicado assinado por Andrew McLaughlin, conselheiro principal de política da Google. "Embora a retirada de resultados de busca não esteja em consonância com a missão da Google, não fornecer informação (...) é mais inconsistente com a nossa missão."
A Google acrescentou que, pelo menos por agora, não disponibilizará na China serviços de weblogs e e-mail, que foram fonte de controvérsia recente, depois de as autoridades de Pequim terem exigido à Yahoo informações sobre um utilizador de correio electrónico e de a Microsoft ter retirado uma mensagem politicamente delicada do seu serviço de blogues baseado na China. Serviços de chat também não serão abertos de imediato.
Com estas decisões, a Google procura um equilíbrio entre a liberdade de informação que define como um dos seus princípios fundadores e a censura exigida por Pequim, que controla o acesso dos 111 milhões de utilizadores da Internet registados no país.
Para já, o Google.cn terá quatro serviços básicos - busca de sites e imagens, notícias e busca local. "Outros produtos - como o Gmail e o Blogger - serão apenas lançados quando tivermos a certeza de podermos fazê-lo de uma forma que tenha um equilíbrio adequado entre os nossos compromissos para satisfazer os interesses dos utilizadores, expandir acesso à informação e responder às condições locais", diz a nota de McLaughlin.
"Hipocrisia"A organização Repórteres sem Fronteiras respondeu de imediato à nota da Google com um comunicado em que afirma que o arranque do Google.cn "é um dia negro para a liberdade de expressão na China". A nota acrescenta que "as declarações da Google sobre o respeito da privacidade on-line são o cúmulo da hipocrisia face à sua estratégia para a China".
E John Palfrey, um dos principais investigadores de um projecto universitário sobre censura na Internet, a OpenNet Initiative, assinalou que "a China tem o regime de censura mais repressivo da Internet", observando que, através de censura passiva e activa, dezenas de milhares de palavras de busca estarão bloqueadas aos utilizadores da Net no país. Jornalistas da Reuters