Casting de Morangos com Açúcar arrasta multidão
Jovens e crianças, entre os 8 e os 25 anos, querem tentar entrar na novela que quase todos acompanham. Mas muitos tiveram que ficar de fora e esperar por outro dia
A fila dá a volta ao quarteirão, e os últimos ficam quase ao lado dos primeiros. Uns vieram em grupo, outros trouxeram os pais, mas muitos estão ali sozinhos. As crianças vão encontrando motivos para correr, mas a maioria desespera com a confusão, o frio e o tempo que passa devagar. Tudo para tentar entrar nos Morangos com Açúcar, a telenovela juvenil da TVI.Começaram ontem as inscrições para o casting e, apesar das poucas informações reveladas, centenas de jovens e crianças acorreram à Casa do Artista, em Lisboa, para tentar a sorte. Sabe-se que têm de ter entre os 8 e os 25 anos e que podem inscrever-se entre as 9h00 e as 13h00, até dia 31 deste mês (com excepção do fim-de-semana). E, ao que parece, é quanto basta.
"Eu amo os Morangos com Açúcar e quero conhecê-los", conta Marta Correia, de 13 anos, a ilustrar o espírito que leva a maioria a estar ali. Alguns vão dizendo que só lhes interessa conseguir uma carreira na representação, mas na hora de falarem sobre a novela, poucos são os que não baixam as defesas. "É um vício", confessa Vera Cardoso, de 16 anos.
Com apenas 8 anos, uma menina explica que está ali porque quer ser amiga da Matilde, a personagem principal da história na série actual. Já Pedro Marques, 22 anos, tem uma percepção mais fria da realidade: "Quero arranjar trabalho como actor, e aqui os critérios são menos exigentes. O que conta é a beleza, e muitas vezes irrita-me a forma como eles representam."
Mais para o fim da fila, o ambiente é pacífico. Uns tocam viola, enquanto outros aproveitam para ler uma revista ou travar novos conhecimentos. Mas a confusão aumenta, na mesma medida em que aumenta a proximidade do portão de entrada. "Estamos aqui desde as 5h00 e estas desavergonhadas passam à frente", desabafa Rafaela, de 12 anos, exaltada com os muitos que tentam furar caminho.
De cada vez que o portão abre para que entrem mais alguns, deixa de haver regras. Entre as palavras de ordem dos polícias no local e a voz da organização que se ouve através de um megafone, todos se atropelam para conseguir ganhar terreno. Gritos aflitos misturam-se com os gritos de satisfação dos que conseguiram passar à frente, e não interessa se uma rapariga mais frágil tem de sair da fila a chorar, por não aguentar mais os apertões.
"Devia haver organização e não há", diz indignada a mãe do Bernardo, que só tem 7 anos, mas que a obrigou a acordar às 5h00 para participar no casting, porque quer que os amigos o vejam na televisão. "Podiam dar senhas às pessoas", acrescenta. E a confusão antes de entrar, é apenas um começo.
"Parece que vamos ser presos"Já para lá dos portões, as perspectivas são melhores, mas a desordem é a mesma. É preciso preencher um formulário, ir buscar uma pulseira com um número, e depois esperar noutra fila, até finalmente conseguir entrar na sala onde são tiradas fotografias aos candidatos a actores. "Parece que vamos ser presos", brinca João Brito, de 14 anos. "Estive aqui 6 horas para estar lá dentro 15 minutos", completa Katherin Moreira, de 13 anos. E saber se passam à segunda fase, só lá para os finais de Fevereiro.
Apesar de tudo, do "sacríficio" que muitos alegam, de não saberem quantos poderão ser seleccionados, é com um sorriso enorme na cara que saem da sala do casting. Os que ficaram de fora prometem voltar nos outros dias. "Havemos de lá chegar, pode é não ser hoje", afirma Liliana Gonçalves, com a cumplicidade de Cátia Tareco, a amiga que lhe faz companhia no último lugar da fila.
Alguns vieram de longe, outros perderam bastante tempo com o visual e quase todos tiveram de faltar às aulas. Quando finalmente a organização anuncia que não vai entrar mais ninguém, os assobios e lamentos surgem naturalmente. Os muitos que ficaram de fora demoram a aceitar que têm mesmo de se ir embora, enquanto os que conseguiram entrar se preparam alegremente para aguentar ainda o tempo que for necessário.