Intus, de Helena Almeida, agora em Lisboa
A exposição que representou Portugal na última Bienal de Veneza está agora na Gulbenkian
Na Bienal de Veneza, onde era uma das dez presenças mais esperadas, Intus, de Helena Almeida, teve quase 24 mil visitantes. Três meses passados sobre o fim do mais importante evento internacional para as artes plásticas, a mostra que constituiu a representação oficial portuguesa de 2005 chega agora a Lisboa, à Fundação Calouste Gulbenkian. As obras são exactamente as mesmas: um trabalho histórico, Tela Habitada, de 1977, um vídeo recente, A Experiência do Lugar II, de 2005, e uma série inédita de fotografias, Eu Estou Aqui, também de 2005. De fora ficou apenas um DVD de introdução à obra da artista, que se considerou não fazer sentido em Portugal. A montagem da mostra, essa, responde ao novo espaço de apresentação.
Em Veneza, Intus dividia-se pelos três andares do Scoletta Tiraoro e Battioro, em Santa Croce, onde estava também a representação oficial suíça. No primeiro andar do pequeno edifício contíguo à Igreja de Santo Stae, o público era recebido por Tela Habitada, como uma espécie de introdução à obra de Helena Almeida. No segundo andar estava A Experiência do Lugar II, apenas o segundo vídeo apresentado pela artista em cerca de 30 anos (foi apresentando no Centro Cultural de Belém no início de 2005). O percurso culminava no terceiro e último andar com a série de 12 imagens a preto e branco de Eu Estou Aqui, realizada para a bienal. Em Lisboa, todas as obras de Intus estão juntas na pequena sala de exposições do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (inauguração hoje, às 18h30). Não será o espaço esperado, mas Isabel Carlos, a comissária, explica que qualquer outro, de maior escala, não faria sentido: desde o princípio que as circunstâncias de produção determinaram o carácter "intimista" da representação portuguesa.
Veneza num jogo de claro-escuro
Depois do braço-de-ferro que opôs à época o director do Instituto das Artes, Paulo Cunha e Silva, e a então ministra da Cultura Maria João Bustorff, Intus acabou com o mais pequeno orçamento numa década: 320 mil euros, com um reforço de última hora de mais 50 mil - perto de metade da verba disponibilizada para a edição anterior. Pelo caminho perdeu-se o primeiro espaço de exposição escolhido (o Palazzo Boloni) e a oportunidade de realização de novos trabalhos para além de Eu Estou Aqui.
Nesta sua nova série de fotografias, Helena Almeida faz um jogo de claro-escuro, tratando Veneza com gestos de agradecimento e entrega tintados de ironia.
Vestida de negro, como é seu hábito, a artista retrata-se ajoelhada em sucessivos momentos de uma coreografia mínima, parecendo estar a agradecer ao público no fim de um espectáculo. Numa só imagem, a boca abre-se-lhe para revelar um vermelho vivo de sangue.
"Os limites do corpo, mas também os limites e as fronteiras das diferentes linguagens artísticas, estão claramente presentes em Intus, através de algum humor, mas também de uma completa entrega da artista a si própria e à obra", escreve Isabel Carlos num pequeno texto que acompanha a exposição. "Que estes sejam os trabalhos que a artista criou para mostrar na Bienal de Veneza não deixa de ser significativo da subtileza corrosiva com que trata os grandes altares da consagração artística."