Fundação Gulbenkian celebra 50 anos "a pensar no futuro"
Exposições, espectáculos e um fórum cultural festejam aniversário. Programa é ponto de partida para pensar os próximos 50 anos
A Fundação Gulbenkian (FG) quer aproveitar o seu 50.º aniversário para fazer um balanço sobre a sua actividade nos domínios da beneficência, arte, ciência e educação e para lançar o debate sobre o papel que deve ter na sociedade portuguesa nos próximos 50 anos.Rui Vilar, o presidente da instituição, apresentou ontem em Lisboa o extenso programa de exposições, espectáculos, conferências e edições que vai começar a 18 de Julho. Nesse dia passam exactamente 50 anos sobre a criação da fundação, respeitando o testamento de Calouste Gulbenkian, um cidadão britânico, nascido em Istambul no seio de uma família arménia, que morreu em Lisboa em 1955 e decidiu deixar a sua colecção de arte e parte da sua fortuna ao país que o acolheu durante a guerra.
Com este programa, a Gulbenkian pretende cumprir quatro objectivos fundamentais: homenagear o seu fundador; assinalar a actividade realizada; recordar todos os que ao longo dos anos se entregaram ao projecto, com destaque para o primeiro presidente, José de Azeredo Perdigão; e "pensar e perspectivar o futuro".
Numa conferência de imprensa em que prescindiu da presença de administradores e comissários, Rui Vilar falou do programa em traços gerais, lembrando que a fundação atravessou períodos de profunda transformação política, económica, social e cultural, do Maio de 1968 às crises petrolíferas de 1973 e 79, do 25 de Abril de 1974 à adesão de Portugal à CEE, em 1986.
"A fundação influenciou muito a sociedade portuguesa", disse Vilar. "Foi um acontecimento importantíssimo para o nosso país." Para avaliar o seu impacte na vida portuguesa no último meio século, a FG encomendou a uma equipa coordenada pelo sociólogo António Barreto uma análise histórica da acção da fundação nas suas mais diversas áreas de intervenção (lançamento em Julho). Da equipa de investigadores fazem parte António Correia de Campos, José Medeiros Ferreira e Kenneth Maxwell.
Depois de analisado o passado, a FG vira-se para o futuro através de conferências e do fórum cultural O Estado do Mundo (2006 e 2007), um projecto transversal coordenado por António Pinto Ribeiro.
"É um projecto que procura avaliar o estado da cultura no mundo do nosso tempo", explicou Rui Vilar, sem adiantar pormenores. É n"O Estado do Mundo que se insere a maioria dos espectáculos (dança, teatro, ópera, música) encomendados para o programa de comemorações. "Teremos uma série de encomendas especiais e contaremos com curadores internacionais que nos darão a ver arte das partes mais distantes do mundo", acrescentou o presidente. O projecto, que inclui a estreia mundial de seis pequenos filmes, tem ainda uma exposição de artes plásticas, que deverá inaugurar em Outubro de 2007.
Na área das conferências internacionais, Vilar fez dois destaques: Que Valores para Este Tempo?, de 25 a 27 de Outubro, coordenada por Fernando Gil, e Imigração: Oportunidade ou Ameaça? (primeiro trimestre de 2007), orientada por António Vitorino e feita em parceria com o Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas e com a Network of European Foundations for Innovative Cooperation. "São dois momentos de reflexão e debate sobre os grandes problemas contemporâneos", resume o presidente da fundação.
A área das exposições é outra das apostas fortes do programa em Portugal e no estrangeiro. A 18 de Julho, dia do lançamento do programa de aniversário, serão inauguradas duas das exposições principais: O Gosto do Coleccionador, que evoca o perfil de Gulbenkian enquanto coleccionador; e Craigie Horsfield, a partir da obra deste fotógrafo inglês que tem contribuído para o debate sobre a representação do corpo na arte contemporânea.
Depois de Craigie Horsfield, a colecção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) estará em foco noutras quatro exposições, três em Lisboa e uma em Londres. Em 2007, a Tate Gallery vai mostrar uma selecção de obras do acervo de arte britânica do CAMJAP, com destaque para Proles Wall, de Paula Rego.
A obra de Fernando Calhau e de Amadeo de Souza-Cardoso estarão no centro das atenções a partir do último trimestre deste ano. A de Amadeo é aguardada com especial interesse, já que a fundação tem vindo a desenvolver um trabalho de investigação aprofundado sobre aquele que é um dos mais importantes artistas do modernismo português (ver texto ao lado), com vista à publicação do seu catálogo raisonné.
Já no próximo ano, em data ainda a anunciar, será inaugurada a exposição 50 Anos de Arte Portuguesa, que está a ser organizada por Jorge Molder, do CAM, Manuel Costa Cabral, director do Serviço de Belas-Artes, e Raquel Henriques da Silva, da Universidade Nova.
"O modelo da exposição está ainda em aberto", explica Costa Cabral. "Para já, o que podemos dizer é que parte da colecção do CAM - uma das maiores e mais abrangentes de arte portuguesa da segunda metade do século -, que usa o nosso arquivo de arte como instrumento de investigação privilegiado, vai incluir encomendas a artistas." Com esta exposição, a Gulbenkian pretende "ajudar a fazer novas leituras" sobre os últimos 50 anos da arte portuguesa e "questionar hierarquias estabelecidas". Costa Cabral garante que a mostra será alicerçada na colecção, no arquivo e nas encomendas.
O programa de aniversário, ainda por fechar, inclui o reforço dos prémios que a fundação atribui nas suas quatro áreas de intervenção.