O "cientista cívico"
Benjamin Franklin foi muitas coisas na vida, mas a forma de pensar de cientista influenciou decisivamente a sua acção. Foi o prestígio que ganhou como "electricista", ou seja, com as suas experiências com electricidade, que o tornaram famoso. O físico Neal Lane, que foi conselheiro para a ciência de Bill Clinton, diz mesmo que ele é um exemplo do "cientista cívico". "Um cientista cívico é alguém que usa os seus conhecimentos científicos para influenciar a política e informar os cidadãos", explicou Lane, na revista Physics Today de Outubro de 2003. As ideias e invenções de Franklin são inúmeras: criou a primeira biblioteca pública, inventou as lentes bifocais, o pára-raios, mandou cartografar a corrente do golfo, inventou instrumentos musicais, um fogão mais seguro, introduziu o queijo parmesão na América. Mas a sua ligação à electricidade foi o que o tornou mesmo famoso. Confirmou que os raios são um fenómeno eléctrico, demonstrando que a electricidade era uma área válida de investigação. "A electricidade ainda não era uma ciência séria. Embora todos concordassem que era um fenómeno, ninguém sabia dizer se seria um fenómeno como o hoola-hoop ou como a gravidade", escreveu Adam Gopnik, correspondente em Paris da revista New Yorker, em Junho de 2003. Ironicamente, a experiência com a electricidade que tornou Franklin famoso pode nunca ter-se realizado. Lançar um papagaio de papel à chuva, para tentar captar os raios, pode ter sido apenas uma "experiência mental" que descreveu em 1752, como defende Tom Tucker em Bolt of Fate, sobre o qual Gopnik escreveu. Mas mesmo que não tenha realizado esta experiência, os relatos da forma como a idealizou fizeram a sua fama cruzar o Atlântico. Era membro da Royal Society britânica e, quando chegou a Paris, foi recebido como uma celebridade. "Não pode haver dúvidas: quando Franklin chegou a França, em 1776, já era uma figura pública. E era-o por causa da sua estatura como cientista e por causa da natureza espectacular do seu trabalho sobre os raios", diz o historiador da ciência Bernard Cohen, citado na New Yorker. Clara Barata