Mirandela protesta com outdoor contra saída de serviços públicos
Câmara instala cartaz junto ao IP4 denunciando perigo
de desertificação
Tal como prometido, o presidente da Câmara de Mirandela colocou ontem junto ao IP4, à entrada do distrito de Bragança, um outdoor gigante (com 16 metros de comprimento e três metros de altura) com uma mensagem de denúncia contra a desertificação do interior e a constante retirada de serviços públicos. "Aqui termina o Portugal da igualdade de oportunidades", lê no cartaz em letras grandes, uma mensagem complementada com uma informação rodoviária: "Bem-vindos a uma zona em desertificação. Próxima saída a 70 quilómetros, Espanha."
Ainda na área do concelho de Mirandela, o autarca colocou mais dois painéis com mensagens semelhantes que reflectem as preocupações do momento: o possível encerramento da esquadra da Polícia de Segurança Pública de Mirandela e a retirada da sala de partos da maternidade local.
José Maria Silvano (PSD) apareceu ontem sozinho numa conferência de imprensa e anunciou que a megamanifestação de protesto contra a retirada de qualquer serviço no distrito, agendada para o próximo dia 27, ficou suspensa. O autarca garantiu que não está isolado nesta luta, esclarecendo que, depois de ter anunciado este protesto, os doze presidentes de câmara do distrito já se reuniram e decidiram que, a partir de agora, todos os problemas transversais aos vários municípios vão merecer uma "posição unânime por parte de todos os autarcas".
"O primeiro exemplo, e já tratado em reunião que decorreu esta semana em Bragança, é a posição unânime sobre a saída ou concentração de serviços da Direcção Regional de Agricultura, a assumir em comunicado público nas próximas semanas", anunciou Silvano.
Outros temas, como o possível encerramento de tribunais em comarcas com menor movimento ou a retirada de serviços na área da saúde, vão merecer tomadas de posição públicas por parte dos doze autarcas e eventualmente "manifestações de protesto", se necessário for.
Esta "guerra" contra a desertificação também já teve o mérito de conseguir juntar na assembleia distrital, praticamente parada há cerca de uma década, dez dos doze presidentes de câmara do distrito, que decidiram revitalizar este plenário e fazer deste fórum um verdadeiro espaço de debate dos problemas que afligem os municípios no seu conjunto.
Defendendo uma postura "honesta e séria", Silvano disse que nas críticas e reivindicações que assumiu "nenhum partido político que passou pelo Governo está isento de responsabilidades". Admite que, até à data, os autarcas não souberam defender "as populações" das políticas adoptadas pela administração central, que "espoliaram os serviços públicos da região".
"Até aqui encerravam os serviços e depois nós reagíamos, não podemos manter essa postura. Temos de ter uma política pró-activa e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os serviços não encerrem", defendeu o eleito social-democrata.
Os receios do Silvano, já contestados em conferência de imprensa pela distrital do Partido Socialista de Bragança, assentam no Pacto de Estabilidade e Crescimento, que tem como princípio "a concentração de todos os serviços nas cinco regiões plano", explica, que são Região Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.
São três as questões colocadas ao Governo pelo presidente de câmara. A primeira é a de saber se "há garantias de que a Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes e Alto Douro fica como sede da eventual concentração com a Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho, em Mirandela"; a segunda é sobre o futuro da PSP; por fim, questiona se "as maternidades dos hospitais de Mirandela e Bragança, entendidas as duas com salas de parto, se mantêm a funcionar".
José Silvano desafia o Governo a responder objectivamente às questões por ele colocadas e promete que, se existirem garantias de que nenhum serviço vai ser retirado ou esvaziado, altera de imediato o sentido da campanha que encetou.
"Seremos os primeiros a retirar estes cartazes de sensibilização e reivindicação e substituí-los, no espaço de uma semana, por outros que digam: "Este Governo discriminou positivamente o concelho de Mirandela e o distrito de Bragança", prometeu.
Se assim não for, fica a promessa "solene" de uma manifestação de âmbito distrital, ainda sem data marcada, a realizar em Mirandela, "convocada pelas doze câmaras do distrito nortenho, sobre as problemáticas da agricultura, tribunais e saúde.