EDP muda governação para reacolher Iberdrola
Modelo de governação
do BCP pode ser
adoptado pela eléctrica. Privados nomeiam admi- nistradores executivos, mas a Iberdrola não
A EDP - Energias de Portugal poderá adoptar um modelo de governação semelhante ao do BCP, permitindo o regresso da Iberdrola à estrutura representativa dos accionistas da eléctrica portuguesa. A solução tem sido discutida entre o Governo e os grandes accionistas privados da EDP já representados na administração da empresa - BCP, Brisa e Cajastur - e os que detêm posições de referência mas não têm assento, como a Iberdrola e o grupo Stanley Ho.O modelo conta com a concordância do primeiro-ministro, José Sócrates, e a forte oposição dos espanhóis da Cajastur, caixa de poupança das Astúrias, que já não estiveram presentes no último encontro realizado na semana passada. Dentro do Governo, entende-se dever aproveitar-se o final do mandato da comissão executiva presidida por João Talone para "reacolher" a Iberdrola na estrutura de governação.
A Iberdrola, que tem oficialmente 5,7 por cento da EDP, mas que o mercado estima que possa chegar de forma directa e indirecta a sete por cento, já foi o parceiro estratégico da EDP, com um administrador não executivo no conselho de administração, mas a parceria foi denunciada, em 2001, pela eléctrica portuguesa, na sequência de negociações, com a Endesa, à margem da EDP. O entendimento entre o executivo e os accionistas privados tem nova ronda prevista para o início de Janeiro, com o objectivo de discutir nomes para a próxima equipa.
A concretizar-se o novo modelo inspirado no BCP, onde os accionistas estão representados através de um Conselho Superior - entidade com menos intervenção na gestão do que a administração e diferentes responsabilidades -, significa que Pina Moura, presidente da Iberdrola Portugal, passará a ter assento ao lado dos outros accionistas. Esta é tida como a principal causa e efeito desta mudança para uma solução que já tinha sido defendida por Jardim Gonçalves, embora limitando a presença da Iberdrola, o que deverá também ser seguido.
Embora com lugar no Conselho Superior, a Iberdrola não poderá nomear um administrador executivo, ao contrário dos outros accionistas privados. Estes, até agora, nomeavam apenas administradores não executivos, sendo os outros indicados pelo Governo.
Mudança de fundoEstá assim em causa uma mudança de fundo na EDP. Os grandes accionistas privados, a actual comissão executiva e os governos anteriores sustentavam que a presença da Iberdrola na administração era incompatível com o facto de ser, ao mesmo tempo, a sua grande concorrente. Ao nível político, o assunto sempre suscitou divisões, já que Pina Moura foi o ministro de António Guterres que negociou a entrada da Iberdrola na EDP e hoje acumula o cargo de presidente da Iberdrola Portugal com o de deputado do PS.
Sectores socialistas asseguram que Pina Moura tem feito o "trabalho da formiga" - sobretudo dentro do próprio partido - e que a alteração accionista em curso na Galpenergia lhe abriu mais uma janela.
A arrumação accionista na Galp, com a entrada do grupo Amorim e a sua possível concertação com os italianos da ENI, tem sido invocada como argumento para a Iberdrola sair do capital da holding de energia, por alegada redução de espaço de influência e por a Galp passar a ser concorrente da Iberdrola no negócio da electricidade. O argumento parece, no entanto, não colher na EDP, com a qual a Iberdrola também concorre.
A Cajastur, que tem sido a grande aliada ibérica da EDP - ambas têm na Hidrocantábrico o veículo de expansão em Espanha -, é a grande opositora ao projecto, contrastando com a disponibilidade demonstrada pelos privados portugueses. Tanto Manuel Menéndez como Talone não escondem que a parceria firmada em 28 de Janeiro, em que a EDP passou a controlar a Hidrocantábrico e a Cajastur comprou 5,53 por cento da EDP, constituía também um bloco estratégico contra as intenções da Iberdrola.
A EDP tem actualmente um Conselho de Administração com 15 administradores e uma Comissão Executiva com cinco elementos (nomeados pelo Estado).