Estudo europeu denuncia maus tratos a animais nos circos

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Os felinos estão entre os animais selvagens utilizados nos circos Attila Kisbenedek/EPA

O relatório "Animais em circos: legislação e controlo na União Europeia", elaborado por Leonor Galhardo, consultora do Eurogrupo, identificou 50 espécies de animais selvagens mantidos em circos, entre eles elefantes, chimpanzés e vários felinos.

França (400 circos), Alemanha (300) e Itália (140) são os países com maior número de circos e igualmente os que têm maior número de animais: entre 500 e mil cada. Portugal tem 20 circos e é frequentemente visitado por pelo menos dois circos espanhóis.

Nos países com maior número de circos, como a Alemanha, regista-se uma elevada proporção destes espectáculos, que são pequenos e pobres. Em Portugal - como na Áustria, na Lituânia e em Espanha - os circos são pequenos e pobres ou muito pobres e utilizam, actualmente, entre cem e 500 animais.

De uma forma geral, os países comunitários têm uma opinião muito negativa sobre as condições dos seus circos, nomeadamente a nível dos alojamentos, transporte, cuidados, treino dos animais, o seu comportamento e aparência.

Estes países consideram que o alojamento dos animais é pequeno e inadequado, que o transporte tem problemas a nível da temperatura e da ventilação e que os cuidados prestados aos animais não são apropriados, como o fornecimento de comida e água de uma forma irregular. O treino dos animais tem procedimentos que não são transparentes e evidencia técnicas muito "stressantes", tendo sido reportados casos de agressão e o uso de instrumentos cruéis.

O destino dos animais de circo quando já não são usados nos espectáculos é muito variado, passando por centros de recuperação ou zoológicos. Em Portugal, um dos destinos encontrados para alguns tigres foi o Badoca Park, no Alentejo.

Estudo conclui ausência de legislação para animais de circo

Leonor Galhardo, bióloga e mestre em bem-estar e comportamento animal, concluiu que não existem leis específicas de protecção dos animais de circo nos Estados membros.

Em Portugal existe uma lei geral de protecção dos animais (1995), que não tem cláusulas específicas para os animais nos circos. Existem ainda outras leis (de 2001 e 2003) que abordam a temática dos animais nos circos, mas com "vários problemas de aplicação".

Para Leonor Galhardo, os circos são naturalmente incapazes de satisfazer as necessidades dos animais selvagens. "A vida num circo é completamente incompatível com as necessidades dos elefantes, ursos pardos e polares, primatas, grandes felinos, entre outros". Além disso, os inspectores não estão devidamente preparados para verificar as condições de bem-estar dos animais nos circos.

Perante este cenário, o Eurogrupo para o Bem-Estar Animal recomenda o fim do uso de animais nos circos de uma forma faseada e que um primeiro passo nesse sentido deve ser a proibição de animais selvagens nestes espectáculos.

"O único caminho possível para alcançar a protecção de animais selvagens em circos é seguir os passos já dados por alguns países que aboliram a sua utilização nos circos", defende o relatório.

A investigadora defende que "o espectáculo continue, mas sem animais", pois considera que "o espectáculo mais ético de todos é o que não usa animais para atrair o público".

Para Leonor Galhardo, cabe ao Governo encontrar uma solução. "Se o Governo quer cumprir a legislação, tem de encontrar condições e um destino para os animais confiscados".

A bióloga defende os "circos do futuro", que não utilizam animais e apresentam uma elevada qualidade artística.

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