Nasceu há 25 anos a sala de referência do rock português dos anos 80 ROCK RENDEZ VOUS
Entre 1980 e 1990 foi o palco privilegiado do universo musical rock português. O Rock Rendez Vous, em Lisboa, faria hoje 25 anos de existência. O seu mentor, Mário Guia, tenta erguer um projecto com características semelhantes
Nasceu no momento exacto, a 18 de Dezembro de 1980, faz hoje 25 anos, quando o chamado rock português estourava. Num curto espaço de tempo o Rock Rendez Vous, na rua da Beneficiência, ao Rego, no antigo cinema Universal, transformou-se na sala de culto onde todas as bandas emergentes tocavam. A sua história confunde-se com a da música pop-rock feita em Portugal na década de 80. Era a sala de referência para toda a gente do universo rock. Viria a encerrar em 1990 por dificuldades financeiras, mas ainda hoje é recordada com nostalgia. De tal forma que aquele que foi desde sempre o proprietário, Mário Guia, hoje produtor e promotor de fado, coloca a hipótese de reeditar o projecto. "No tempo de Santana Lopes [então presidente da Câmara Municipal de Lisboa] apresentou-se um projecto, mas a inexistência de espaços obstou ao avançar do mesmo. Agora vamos tentar de novo junto da câmara. Há uma série de espaços junto ao rio, da responsabilidade do Porto de Lisboa, que poderiam ser hipótese. Não seria apenas uma coisa só dedicada ao rock, mas algo mais ecléctico", afirma.
Na altura em que surgiu, o Rock Rendez Vous (RRV), era a única sala de espectáculos de Lisboa verdadeiramente vocacionada para a música moderna feita em Portugal, produzindo concertos, fazendo prospecção de talentos e promovendo a gravação de discos via editora Dança do Som. Hoje a realidade é diferente, mas Mário Guia acredita num projecto análogo "porque fazem falta salas de média dimensão, para cerca de mil pessoas, como era o RRV."
Hoje não está prevista nenhuma iniciativa para assinalar a data, mas no próximo ano será editado um álbum de fotografias e um outro livro que reportará a história do espaço. Em dez anos de actividade foram produzidos cerca de 1500 concertos, seis concursos de música moderna e foi criada a editora independente Dança do Som, que além de gravar bandas emergentes nos concursos, gravou pela primeira vez em Portugal um disco rock ao vivo - "Ao Vivo no RRV em 1984".
Além dos inúmeros concertos semanais com bandas portuguesas (Xutos & Pontapés, Radio Macau, Mler Ife Dada, Sétima Legião, Heróis do Mar, GNR, Pop Dell"Arte, Mão Morta, Ban, Croix Sainte, Anamar, António Variações, etc) também houve espectáculos com bandas estrangeiras, que iriam marcar toda a geração pós-punk, como os Killing Joke, The Sound, Teardrop Explodes, The Chameleons, Woodentops ou Danse Society.
Memórias do rockEm 1984 realizou-se o 1º Concurso de Música Moderna. No final desse ano a Dança do Som editaria a compilação "Ao Vivo no Rock Rendez Vous" e no ano seguinte seria editado o maxi-singe de estreia dos Mler Ife Dada, que haviam vencido o primeiro concurso (THC, Rongwrong, Requiem Pelos Vivos, Ritual Tejo e Lobo Meigo seriam os vencedores nos anos seguintes). Dos muitos concertos realizados no espaço destaque para o dos Xutos & Pontapés, a 31 de Julho e 1 de Agosto, para a gravação de um disco ao vivo, ou para um concerto dos Mão Morta, a 2 de Junho de 1989, em que Adolfo Luxúria Canibal, no calor da actuação, cortou a própria perna com uma faca.
Mário Guia recorda outra história que se passou com o agora presidente do clube de futebol Boavista, João Loureiro, na altura líder dos Ban. "Eles tinham um espectáculo com uns archotes enormes, numa linha muito neo-romântica, e recordo-me de, no final do concerto, os terem apagado. Mas aquilo tinha um óleo tão forte que a meio da noite começou a largar imenso fumo. Havia um segurança que vivia mesmo em frente e deu por isso e às tantas telefona-me em pânico: ai! Seu Mário! O Rock está a arder! Venha cá depressa! Quando cheguei já lá estavam os bombeiros com uma fumarada enorme, mas depois percebemos que não passava disso mesmo e foi um alívio enorme!"
O Rock Rendez Vous viria a encerrar em Julho de 1990, devido a dificuldades financeiras, depois de dois dias de leilão. Nos dias 26 e 27 de Julho foi exposto para venda todo o equipamento de animação e peças de decoração da sala. Para a história ficavam os muitos grupos que a sala ajudou a impulsionar e a memória de uma época efervescente no universo musical português.