Universidade de Coimbra exibiu edição rara d"Os Lusíadas
Livro foi retirado do cofre durante uma hora para atrair público ao primeiro mercado do livro da universidade
Com direito a escolta policial, o exemplar da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) da primeira edição d"Os Lusíadas, de Luíz Vaz de Camões, de 1572, foi ontem pela primeira vez exposto fora da instituição, ainda que não tenha chegado a sair do perímetro da cidadela universitária. Durante pouco mais de uma hora, esteve no Auditório da Reitoria, na abertura do 1º Mercado do Livro da Universidade de Coimbra, que reuniu obras editadas pela BGUC, pelo Arquivo e pela Imprensa da Universidade de Coimbra.
"Foi um happening que fizemos para chamar a atenção do público", assumiu o bibliotecário António Maia Costa, que em breve será nomeado subdirector da Biblioteca-Geral da Universidade de Coimbra.
Este exemplar da primeira edição d"Os Lusíadas foi adquirido pelo Estado em 1942 para a universidade. Tem uma história curiosa. Na altura da compra, e durante anos depois, admitiu-se que o livro seria muito menos valioso do que na realidade é - foi considerado uma contrafacção.
Durante muito tempo, discutiu-se se as verdadeiras primeiras edições d"Os Lusíadas eram as que ostentavam, na folha de rosto, um pelicano virado para esquerda ou um pelicano virado para a direita. Inicialmente, pensou-se que seriam estas últimas as originais. Em 1921 foi apresentada a teoria contrária, mas tardou a impor-se. Em 1980, a Academia das Ciências ainda publica um fac símile de ambas as edições, reproduzidas lado a lado. O livro da BGUC tem o pelicano a olhar para a esquerda. Antes de se tornar maioritário o entendimento de que esta era a marca distintiva da verdadeira primeira edição, o livro esteve na universidade com a cota RB, que se atribui aos livros reservados de segunda categoria. Só nos anos 80, passou a ser considerado um livro da maior importância e a integrar o grupo restrito de obras guardadas no cofre, onde é conservado a 15 graus de temperatura e a uma humidade inferior a 45 por cento.
Dos 200 a 250 exemplares dados à estampa em 1572, em Lisboa, restarão menos de três dezenas, espalhados por instituições de todo o mundo. Aquele que ontem foi exibido em Coimbra estará a meio da tabela, em termos de valor. "É um exemplar médio. O que o prejudica é estar excessivamente aparado, guilhotinado, devido a sucessivas encadernações", lamenta Maia Amaral, ressalvando que, ainda assim, é livro para valer uns cem mil euros. No ano passado, em leilão, foi vendida por 32 mil euros outra primeira edição d"Os Lusíadas. Mas o livro estava incompleto, sem página de rosto, licenças e primeira folha de texto, que foram substituídas por fotocópias há cerca de 40 anos. O arrematador foi Aprígio Santos, o presidente do clube Naval 1º de Maio.
O exemplar da universidade tem uma encadernação - no século XVI os livros não tinham capa dura, de editor, quando muito uma folha de pergaminho - do século XIX, em couro e ferro dourados. Como existe em versão digital e em edição fac -similada, a sua consulta obedece a regras rigorosas, disse ontem Maia Amaral, ansioso pelo regresso do livro ao cofre.