Descoberto o décimo fóssil da Archaeopteryx, a ave mais antiga
O novo exemplar reforça as provas de que as aves modernas descendem
de dinossauros carnívoros bípedes
Os cientistas localizaram outro fóssil do Archaeopteryx, a ave mais antiga que se conhece, com 150 milhões de anos. Embora não se saiba ao certo quando, o novo espécime foi encontrado numa pedreira na zona de Solnhofen, na Baviera (Alemanha), região de onde provém os nove exemplares de Archaeopteryx conhecidos até agora. Esta semana, a revista Science publica o primeiro estudo sobre este fóssil. O primeiro exemplar, que acabou por ir parar ao Museu de História Natural de Londres, foi descoberto em 1861, quando se abriu uma laje de calcário litográfico, uma rocha de textura muito fina usada para fazer impressões litográficas e capaz de conservar plantas e animais fossilizados com um grau de pormenor fotográfico.
Começava ali uma polémica que duraria mais de um século. O Archaeopteryx exibia uma mistura de características avianas e reptilianas. Um pouco mais pequeno que uma galinha, pensa-se que não voava, mas é indubitável que o Archaeopteryx ("asa antiga") tinha penas, incluindo as do tipo indicado para o voo. Tal como os répteis, tinha dentes - inesperadamente observados num exemplar encontrado em 1877 -, uma cauda longa com muitas vértebras e dedos com garras nas asas. Qual era, então, a origem das aves?
Apesar de ser aceite que as aves modernas descendem dos dinossauros carnívoros bípedes (o grupo dos terópodes) - principalmente depois de, nos anos 90, terem começado a ser encontrados vários dinossauros com penas na China -, ainda há quem se mantenha céptico em relação a essa origem.
Mas o novo fóssil do Archaeopteryx reforças a ligação das aves aos dinossauros, segundo a equipa que o descreve na revista Science, coordenada por Gerald Mayr, do Instituto de Investigação de Senckenberg, na Alemanha.
Além de estar entre os fósseis de Archaeopteryx em melhor estado de preservação, o novo fóssil também revela alguns pormenores osteológicos desconhecidos até a este momento - nas patas e no crânio -, que baralham a distinção entre as aves mais primitivas e os deinonicossauros, grupo de dinossauros terópodes com temíveis garras ao qual pertence o Velociraptor, uma das estrelas do filme Parque Jurássico.
Dedos contam histórias novas
"O pormenor mais notável é o da presença de um segundo dedo hiperextensível no Archaeopteryx, uma característica que até agora serve de diagnóstico [para a classificação] dos deinonicossauros", sublinha Gerald Mayr ao PÚBLICO, num e-mail.
"Além disso, o novo espécime mostra que no Archaeopteryx" o dedo posterior não passou completamente para trás [em relação aos outros], como acontece nas aves modernas, mas está numa posição mediana, um facto que não tinha sido percebido em 150 anos de estudos dos Archaeopteryx", acrescenta o investigador.
"A ausência do dedo posterior completamente invertido não só mostra a inexistência de uma das características avianas como também pode ser importante para interpretações futuras sobre o seu modo de vida", diz ainda.
No artigo científico, os investigadores falam um pouco das implicações do dedo posterior do Archaeopteryx: "Indica que não tinha umas patas lhe permitissem empoleirar-se. Na melhor das hipóteses, às vezes era arbóreo."
Também o crânio apresenta características morfológicas que permitem estabelecer a ligação entre as aves e os dinossauros. "O crânio do Archaeopteryx é muito mais semelhante ao dos dinossauros terópodes do que se pensava. Outras características anatómicas controversas que desempenharam um papel importante nas discussões sobre a origem das aves são visíveis, pela primeira vez, neste espécime", frisa Gerald Mayr. "Fornece mais provas de que os terópodes são os antepassados das aves", resume o cientista.
Gerald Mayr não sabe ao certo quando foi encontrado este novo fóssil, nem em que localidade. Sabe apenas que foi na área de Solnhofen e que pertencia a uma colecção particular, até que há cerca de um ano foi comprado por um mecenas, para o Centro de Dinossauros do Wyoming, em Thermopolis, nos Estados Unidos. "Segundo a viúva do antigo dono, foi descoberto nos anos 70. Primeiro, foi oferecido para venda ao museu de Senckenberg, há cerca de dois anos, e foi quando ouvi falar dele", conta o investigador alemão, que viu o exemplar pela primeira vez em Junho.
Até há dois anos, só se sabia da existência de nove exemplares desta ave primitiva, dois dos quais muito fragmentados e quase só ossos das asas. Os resultados preliminares da sua análise foram publicados há muito pouco tempo.