Aeroporto Sá Carneiro, um gigante com 60 anos de actividade

Salazar viu nascer a ideia, oficializou-a, mas não esteve na inauguração. O aeródromo que nasceu em Pedras Rubras foi cobiçado por várias autarquias. Depois de várias alterações, é hoje um reconhecido aeroporto na rota internacional. E em 1990, absorveu o nome de um antigo primeiro-ministro: Francisco Sá Carneiro. Por Nuno Amaral

Quando hoje os ponteiros do relógio marcarem 14h20, assinalam-se 60 anos sobre a inauguração do então Aeródromo de Pedras Rubras. A essa hora exacta, aterrava na novíssima pista o primeiro de vários Dragon-Rapid da Companhia de Transportes Aéreos (CTA). Poucos minutos depois de saírem do avião, Humberto Delgado, então director do Secretariado da Aeronáutica Civil, Óscar Carmona, chefe de Estado, e vários ministros cortavam a fita. E o Norte do país estreava-se assim nas lides da aviação comercial regular. Portugal via também nascer a primeira companhia de transportes aéreos inteiramente portuguesa. Na altura, uma viagem entre Porto e Lisboa custava 306 escudos. Agora o bilhete paga-se em euros, cerca de 200 em classe económica - na Portugália e na TAP -, e a estrutura em nada se assemelha. A 18 de Outubro deste ano foi inaugurada uma moderníssima gare de partidas e chegadas. Pelo meio fica o 25 de Abril, o aparecimento da TAP e várias alterações ao projecto inicial.
Estávamos em Dezembro de 1945, ainda no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, facto que levou o Governo chefiado por Oliveira Salazar a esquecer por esse dia as restrições à circulação e abastecimentos de combustível. O momento era de festa, e festa grande: o Porto assistiu a um nascimento há muito almejado. A infra-estrutura tinha quatro pistas de aterragem, e todas desafiaram, curiosamente, a contenção e o cinzentismo de Salazar: as pistas foram arrelvadas com sementes importadas dos EUA. Por elas, o Governo pagou, à data, 300 contos. Mas o gáudio do momento não teve prossecução imediata. A torre de controlo era de madeira, só em 1952 passou a ter um aspecto mais ocidental. E o Aeródromo de Pedras Rubras só conheceu a primeira aerogare cerca de dois anos depois.

Disputa camarária pela estrutura atrasou construção
Desde a génese da ideia, em 1926, que os entusiastas do projecto anteviam que o aeródromo seria muito mais que um pequeno entreposto de aviação.
A escolha dos terrenos em Pedras Rubras foi oficializada em 1938, devido à geografia que oferecia possibilidades de expansão da estrutura. Ainda assim, apesar deste frágil consenso, várias câmaras da actual Área Metropolitana do Porto queriam albergar a estrutura. Facto bem português que atrasou, e muito, o arranque da construção em Pedras Rubras.
Vencidas a burocracia e o bairrismo autárquico, o projecto foi aprovado pelo pomposo Conselho Nacional do Ar, ainda em 1938. Dois anos depois, a "ideia" ganha cunho oficial: um decreto-lei soleniza a criação do Aeródromo da Cidade do Porto. Três anos depois, e logo após as expropriações, os trabalhadores, centenas de trabalhadores partem para o terreno. Em 1948, a intensificação dos voos regulares entre Lisboa e Porto faz surgir a primeira aerogare que substitui um arremedo.
Volvidos 14 anos, em 1956, a inauguração das ligações não regulares entre Porto e Londres empurram a estrutura para a categoria de Internacional. Quatro anos depois, esse trajecto torna-se regular, através das linhas estabelecidas pela TAP e pela então British European Airways.

De Pedras Rubras a Sá Carneiro, uma década de mudançasJá com 36 funcionários no activo, Pedras Rubras entra na era dos aviões a jacto a 25 de Julho de 1962. Nesse dia foi inaugurada a segunda pista com dois mil metros. Um jacto vindo de Goa celebrou outra pomposa festa, à moda do Estado Novo.
Ainda com instalações reduzidas, ampliam-se as zonas de embarque de passageiros, cria-se um restaurante e constrói-se uma nova plataforma. Mas as grandes mudanças surgiram já na década de 90. O Pedras Rubras passa a Francisco Sá Carneiro e entra na rota dos melhores aeroportos da Europa. O esforço da companhia ANA, EP ia no sentido de fazer nascer um aeroporto renovado, à medida que o "mapa" de escalas se estendia a quase todas as capitais europeias.
A compleição da estrutura que passou a adoptar o nome de um antigo primeiro-ministro muda radicalmente: surge uma nova torre de controlo, uma nova aerogare e multiplicam-se as placas de estacionamento. O número anual médio de passageiros salta para os 2,5 milhões. Desde que José Sócrates cortou a fita da nova gare de partidas e chegadas, no passado dia 18 de Outubro, o aeroporto tem capacidade para chegar aos seis milhões de passageiros por ano.

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