Ex-vereador Vasco Franco é hoje homenageado
Erradicação das barracas foi prioridade do único vereador socialista que esteve na CML 23 anos seguidos
Foi responsável pela segurança e pelos recursos humanos, mas a erradicação das barracas da cidade foi a prioridade do ex-vereador socialista Vasco Franco na Câmara de Lisboa, que deixou agora, ao fim de 23 anos.O ex-vereador do PS vai ser hoje homenageado num jantar, no ginásio da escola do Regimento dos Sapadores Bombeiros, em Chelas.
Vasco Franco e Pedro Feist, actualmente vereador do executivo de Carmona Rodrigues, são os dois autarcas mais antigos da Câmara Municipal de Lisboa (CML).
"Neste momento, estou empatado com Pedro Feist, mas ele vai passar à frente, porque integra o actual executivo", disse Vasco Franco, lembrando que Feist interrompeu o seu mandato no executivo anterior, o que deixa o socialista como "o único vereador que esteve na Câmara de Lisboa 23 anos seguidos".
Nascido em Lagoa, no Algarve, em 1952, Vasco Franco foi eleito vereador da CML pelo PS em 1982.
No último mandato do engenheiro Nuno Abecasis, em 1986, subscreveu um acordo político com vista ao início do processo de erradicação das quase 20.000 barracas então existentes e lançou a recuperação do Bairro Alto.
"A habitação foi a aposta da minha vida política. É o símbolo do meu mandato e a área em que mais investi e em que mais me realizei", afirmou, explicando que estava "muito sensibilizado para esta questão" desde a adolescência, após ter colaborado numa acção social num bairro de barracas em Coimbra, experiência que o marcou "muito".
No balanço do seu mandato, Vasco Franco afirma sentir-se "bem" por saber que influenciou "positivamente a vida de 50 mil pessoas", ao proporcionar um realojamento de quase dez por cento dos lisboetas de bairros como os da Boavista, Horta Nova, Padre Cruz, Relógio, Musgueira, Alto dos Moinhos, Galinheiras, entre outros.
Foi também na área da habitação que ocorreu o momento que o socialista destaca como o mais marcante do seu mandato: a demolição do Bairro do Chinês, em Chelas, em 2001.
Outra situação que gosta de recordar, entre gargalhadas, é a interpelação de um idoso que morava numa barraca e que, quando foi realojado no Bairro Padre Cruz, protestou "de forma veemente" por não ter um telefone instalado.
Dos momentos mais negativos, Vasco Franco lembra dois incêndios: o do Chiado, em 1988, em cuja recuperação se empenhou, e o dos Paços do Concelho, em 1996.
O vereador lamenta que ainda hoje "se discuta se os realojamentos foram bem ou mal feitos", mas sustenta que "não havia alternativa".
Nas últimas autárquicas, Vasco Franco não se recandidatou, e três dias após deixar a câmara assumiu o cargo de deputado na Assembleia da República. Vasco Franco espera agora retomar a escrita de um ensaio sobre o papel da Maçonaria na independência da América Latina e de uma obra de ficção associada à crise académica de 1969.
O ex-vereador vai continuar também a dedicar-se à fotografia, uma paixão de juventude que redescobriu há quatro anos. Lusa