Sexta-feira 13 O musical que podia ser um concerto dos Xutos & Pontapés
Vão ser cantadas e tocadas 15 canções da banda, que criou uma canção inédita para o espectáculo. Público vai sentir-se como se estivesse num concerto
As aventuras de quatro de jovens dos anos 80, com todo o sexo, drogas e rock n"roll que marcou essa década e que levou à morte de dois deles é o mote para o musical que tem como protagonistas 15 das mais conhecidas músicas que os Xutos & Pontapés produziram ao longo de 26 anos de estrada. Mas o texto, que é ficcionado, nada tem a ver com o percurso da banda e Tim, Zé Pedro, Kalu e João Cabeleira não sobem ao palco uma única vez.Com encenação de António Feio, texto de Eduardo Madeira e direcção musical de Renato Júnior, Sexta-feira 13 vai estrear-se em Março. O nome não aparece por acaso: o primeiro concerto do grupo português de rock aconteceu numa sexta-feira 13, em Janeiro de 1979 e Sexta-feira 13 é também o título do único tema inédito escrito propositadamente pelos Xutos & Pontapés para o espectáculo.
Acompanhando as tendências internacionais de produzir musicais inspirados num grupo ou artista, como Mamma Mia! baseado no grupo sueco Abba, a ideia para este espectáculo estava a ser pensada há algum tempo por António Feio, Susana Félix (que tem a seu cargo a coordenação artística) e Renato Júnior. Os Xutos & Pontapés gostaram tanto da ideia que também estão na produção, ao lado da UAU e MDL. Aliás, os quatro membros da banda só não estiveram presentes no início das audições para a escolha do elenco, ontem na Toyota Box em Alcântara, porque estão em ensaios para os concertos que vão dar entre quinta-feira e sábado, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Ana Gonçalves, de 26 anos, foi um dos 40 candidatos que participaram no casting da tarde. Corista de Marco Paulo, com cinco anos de canto no Conservatório de Coimbra e vários workshops de teatro no currículo, vê este musical como a oportunidade de poder "trabalhar com António Feio e com gente de muita qualidade". Ana Gonçalves gostava de participar num grande musical, depois de ter ganho o gosto quando protagonizou o musical infantil O Planeta Energia, da companhia Palmas Ensemble, que andou em digressão por várias escolas.
A mesma vontade de participar tem Sofia Froes, de 29 anos, o que era visível na forma como imitava e reagia emocionalmente aos passos das coreógrafas Sónia Aragão e Carla Ribeiro. "A audição correu bem, mas sinto-me muito emocionada, o Circo de Feras é uma música muito forte", disse no final. Para Sofia Froes, fazer parte de um musical seria a concretização de um sonho, por reunir as três coisas que mais gosta de fazer: cantar, dançar e interpretar. Mas esta seria, também, uma oportunidade de trabalho para Sofia Froes, que se apresenta como actriz e cantora: "Neste momento estou a fazer trabalhos de locução para televisão, mas tenho um filho de três anos..."
Muitos candidatosA resposta de cerca de 200 candidatos aos anúncios obrigou a produção a prolongar os dois dias de casting inicialmente programados por toda esta semana. António Feio fez questão de referir que as audições servem para escolher todos os participantes do musical, não havendo um elenco principal definido à partida. "Não andamos à procura de estrelas."
Apesar de grande parte do espectáculo ainda estar em fase de construção, principalmente ao nível da cenografia, da responsabilidade de Eric da Costa, que concebeu a Toyota Box, os produtores querem um musical que fuja aos cânones tradicionais. A ideia é fazer com que o musical se pareça com um concerto, daí que a maior parte do público assista em pé - vai haver apenas uma bancada para os que preferirem sentar-se.
António Feio pretende conquistar públicos com este musical: "Há gente que vai despertar para a música dos Xutos através do teatro e há outros que vão passar a vir ao teatro por causa dos Xutos." E transmitir uma mensagem positiva, apesar de duas das personagens sucumbirem aos alucinantes anos 80. "É uma mensagem positiva, a de que a vida não é fácil - vai torta -, mas há a amizade e a solidariedade. E os Xutos são a prova de que a vida vale a pena", disse António Feio. "E é principalmente uma homenagem aos Xutos, tantos anos depois", lembrou Renato Júnior.