Jorge Vaz de Carvalho diz que a música é a área artística com mais dificuldades
Futuro director do Instituto das Artes em colóquio em Coimbra
O recém-nomeado director do Instituto das Artes (IA), Jorge Vaz de Carvalho, garantiu anteontem que irá "lançar uma colecção de compositores portugueses": "É um dos meus primeiros objectivos com dinheiro do IA. Não existe nenhuma colecção de partituras portuguesas que se possa adquirir. Não estão disponíveis". Jorge Vaz de Carvalho fez estas declarações enquanto participante num debate sobre política cultural, que decorreu no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, onde falou também da sua experiência como director da Orquestra Nacional do Porto. Disse que iria levar este projecto para a frente, mesmo que "roubando" um pouco às outras áreas artísticas.
Quem não gostou muito da ideia foi o artista plástico, músico e docente da Universidade de Coimbra António Olaio, que, no período aberto às questões do público, criticou aquela posição: "Afirmou que iria roubar algumas coisas às outras áreas, onde disse que as coisas até se vão fazendo... Ora, os músicos também podem tocar pífaro", ironizou Olaio, referindo-se ao facto de Jorge Vaz de Carvalho ter dito que a área da música era aquela onde se sentiam as maiores dificuldades. "Não me parece um indício muito agradável o que disse", afirmou Olaio.
Mas Jorge Vaz de Carvalho não cedeu: "É evidente que o dinheiro não é elástico. Não creio que umas edições roubem assim tanto dinheiro às outras artes. Mas continuo a insistir que a música está numa situação pior do que a situação de se ser pintor e não ter pincel nem tintas", defendeu, acrescentando que muitas estruturas, entre as quais a Casa da Música, não têm, por exemplo, fosso de orquestra.
O futuro responsável do IA acrescentou que pretende ainda criar "verdadeiramente uma rede de criação artística em todo o país". "Está a ser tratado, mas não vou adiantar mais, para já", disse, assegurando, contudo, que este programa "tem a ver com a descentralização das artes e com a formação de públicos", e que irá abarcar todo o território nacional: "Mas as câmaras só entram no projecto se se comprometerem com um determinado número de produções e de espectáculos. Não é só dizer eu quero. E vai incluir uma percentagem obrigatória para o público infantil e juvenil, porque é uma falta enorme", defendeu.
Vaz de Carvalho considerou também que, mesmo com pouco dinheiro, é possível fazer uma programação de qualidade, desde que à frente das instituições estejam "pessoas de topo".