MEMÓRIA 30 ANOS DE PREC Indonésia começa invasão de Timor
"A invasão do Timor português por forças da Indonésia começou às 5 da madrugada de ontem", informa o República citando um comunicado da Fretilin. A notícia faz o pleno de quase toda a imprensa diária. O Gabinete de Timor, na Presidência da República, não confirma nem desmente. A Indonésia confirma, mas diz que os protagonistas foram elementos da UDT e da Apodeti, os dois partidos timorenses que lutam contra o domínio da Fretilin sobre o território, na sequência da guerra civil iniciada em Agosto passado.Os acontecimentos subsequentes virão a confirmar o comunicado da Fretilin e a desmentir as alegações indonésias: tratou-se de uma intervenção comandada por militares profissionais e apoiada por meios aéreos e navais, de que nenhum dos contendores timorenses dispõe.
Logo nas primeiras 24 horas de combates, as forças indonésias, que enquadravam elementos dos partidos anti-Fretilin (os dois já referidos mais as pequenas formações Kota e Trabalhista), lograram penetrar no território numa profundidade de cerca de uma dezena e meia de quilómetros, passando a controlar a parte norte da zona fronteiriça que separa Timor Ocidental (indonésio) e Oriental (português).
A pouco e pouco - talvez influenciados pelas reservas de Lisboa, que apesar de dispor na ilha do Ataúro de meios de radiogoniometria aptos para detectar o que se passa no terreno nada dirá nos próximos três dias sobre a situação - os jornais portugueses deixam de falar em invasão, palavra que só voltarão a estampar na primeira página dentro um mês e três semanas, em 7 de Dezembro, quando Díli e Baucau forem atacadas por mar e ar.
Estão desaparecidas três equipas de televisão que se encontravam na área Balibó-Maliana - duas australianas, dos canais 7 e 9, e uma portuguesa, da RTP. O República diz que esta última conseguiu escapar, mas trata-se neste momento mais de um desejo do informador do jornal do que de uma realidade: os quatro elementos da equipa só amanhã chegarão a Díli, depois de uma caminhada de dois dias e meio, a pé, pela montanha, apoiados por guias e pela população. Dos cinco elementos das equipas da televisão australiana só se virá a saber alguma coisa dentro de três dias, quando os seus cadáveres forem encontrados em Balibó. Vítimas de fogo cruzado, começam por dizer os indonésios; executados a sangue frio pelos invasores, garantem sobreviventes das Falintil, chegados a Díli.
Na actualidade jornalística há dois outros picos de informação: um envolve o ministro Almeida Santos, da Comunicação : o outro, Salgado Zenha, titular da pasta das Finanças.
Zenha afastou a administração do Banco de Portugal (José António Tavares da Cruz, José Mariqueza e Mário Brandão), levantando um coro de protestos do lado sindical, que fala em saneamento à esquerda.
Para responder aos críticos, o ministro decidiu dar posse ele próprio e em cerimónia pública - pela primeira vez na história da instituição, nota A Luta - à nova administração, constituída por Silva Lopes, Costa Leal, Rui Vilar, Joaquim Mestre, Walter Marques, Loureiro Borges e Alberto Ramalheira. O discurso é polémico (ver A Frase), mas sobretudo determinado: "O VI Governo não será o executor testamentário das últimas vontades do defunto. Eu, pelo menos, não o serei. Para cumprir as vontades dos defuntos, não são precisos governos. Bastam os sacristães e os notários".
A assembleia-geral do Sindicato dos Jornalistas aprovou um voto de "total desconfiança" em Almeida Santos, a quem acusou de fazer "chantagem económica" com os jornais estatizados. Apesar de considerar diminuta a participação de sócios na referida assembleia-geral (80 num total de 720), A Luta critica também Santos, em nota de primeira página, não assinada, dizendo que" o facto de um sector querer manipular pondo ao serviço de um grupo ou partido, quando eles são sustentados pelo orçamento geral do Estado, é simplesmente inconcebível e inconsequente".