Ria Formosa: investigação alerta para destruição do habitat dos cavalos-marinhos
O estudo, realizado sob a direcção da bióloga canadiana Janelle Curtis, concluiu que a extracção de areias, a dragagem descuidada dos canais e a circulação descontrolada de embarcações de recreio estão a destruir vastas áreas de ervas marinhas, o habitat por excelência daquela espécie.
A investigação, realizada no ambiento do projecto internacional "Seahorse", baseou-se na análise a 700 cavalos-marinhos e permitiu distinguir duas espécies: o "Hippocampus guttulatus", a mais comum, e o "Hippocampus hippocampus", com cerca de 200 mil exemplares.
Os cavalos-marinhos concentram-se essencialmente nas chamadas "pradarias" de ervas marinhas, uma espécie de floresta subaquática onde se escondem dos predadores e se alimentam de pequenos crustáceos.
"Estou muito preocupada com os efeitos que a actividade (extracção de areias) possa causar a longo prazo ", disse Janelle Curtis, alertando que o seu impacto na biodiversidade da ria requer "uma rigorosa e imediata avaliação científica".
A dragagem é outro dos problemas na conservação dos habitats dos cavalos-marinhos, segundo Ester Serrão, da Faculdade de Ciências do Mar e Ambiente da Universidade do Algarve. "Quando se fazem dragagens ao fundo da ria, devem deixar-se manchas de ervas nas pontas dos canais, uma vez que as que são arrancadas pela raiz já não voltam a crescer".
A mesma bióloga explicou que as ervas não voltam a crescer porque na Ria Formosa predomina o género masculino daquele tipo de planta marinha, que não tem capacidade de produzir sementes.
A direcção do Parque Natural da Ria Formosa também esta atenta ao problema e, segundo uma técnica do daquele organismo, Isabel Pires, já proibiu a realização de dragagens ou instalação de viveiros nas zonas de maior concentração de cavalos-marinhos.
A revisão do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Vilamoura-Vila Real de Santo António está igualmente a ter em conta a preservação dos habitats dos cavalos-marinhos, acrescentou Isabel Pires.
Outra ameaça à espécie é o tráfego descontrolado de barcos e a falta de sinalização adequada dos canais que faz com que, por vezes, as hélices dos barcos "lavrem" o fundo da ria, sobretudo quando a maré está baixa.
"Quando se mergulha na ria vêem-se autênticas auto-estradas no meio das pradarias por causa das hélices", diz Ester Serrão, defendendo que a circulação de barcos a motor fosse proibida em determinadas zonas.
O calor, a oxigenação constante da ria através da entrada da água do mar e o facto de ser extremamente rica em nutrientes pode justificar a grandeza da população daquela espécie na Ria Formosa, considerada por alguns como um "tesouro nacional".