Gonçalo M. Tavares ganha Prémio Saramago

Nobel considera que o romance "Jerusalém" "pertence à grande literatura ocidental"

O romance Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares, venceu o Prémio Literário José Saramago 2005, entregue ontem em Lisboa por Saramago, no dia que se comemorava o sétimo aniversário da divulgação de que ganhara o Prémio Nobel da Literatura. E felicitou o jovem escritor "pelo grande livro, que pertence à grande literatura ocidental".Em tom em brincadeira, o Prémio Nobel referiu que "não há direito" de Gonçalo escrever tão bem apenas aos 35 anos, "dá vontade de lhe bater". Já a sério: "Com este livro, [Gonçalo] tem toda a legitimidade" para escrever. De seguida, Saramago lembrou uma frase: "É preciso sair da Travessa da Queimada", ou seja, "é preciso sair de um espaço pequenino". Em Jerusalém, Gonçalo M. Tavares "inventa outro mundo que aparentemente não tem nada a ver connosco", mas é um mundo que contém "o futuro ameaçador" de uma humanidade que, segundo Saramago, daqui a 100 anos será irreconhecível.
Ao receber o prémio de Saramago, Gonçalo M. Tavares referiu antes de mais a língua portuguesa, "uma das mais fortes do mundo" mas da qual há "pessoas que têm medo". Este prémio, carregado de "simbolismo" pelo nome do primeiro Nobel da Literatura, "celebra a língua portuguesa". Como escritor, Gonçalo sente-se com "a obrigação de por um lado encantar e por outro desencantar, no sentido original de interromper uma canção". É função dos escritores, dos artistas, "parar a música cada vez mais igual" e fazer "olhar para o jardim.". E com Jerusalém, o escritor fala também da queda, pessoal e colectiva, quando a civilização está "presa por arames" e nunca pode ser dada como adquirida.
O prémio da Fundação Círculo de Leitores concede bienalmente 25 mil euros a uma obra literária no domínio da ficção, romance ou novela, em língua portuguesa, editada em países lusófonos por escritores até 35 anos - idade que Gonçalo M. Tavares completou em Agosto deste ano. Jerusalém, editado pela Caminho, já vencera o Prémio Ler, atribuído pelo Círculo de Leitores e pelo BCP para a melhor obra inédita.
O júri do Prémio Literário José Saramago 2005 foi presidido por Guilhermina Gomes, a que se somavam Nelida Piñon, José Eduardo Agualusa, Pilar del Rio e Vasco Graça Moura. Os anteriores vencedores foram Adriana Lisboa (2003, Sinfonia em branco, editado pela Rocco, do Rio de Janeiro), José Luís Peixoto (2001, Nenhum Olhar, Temas e Debates), e Paulo José Miranda (1999, Natureza morta, Cotovia).

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