Noruega vai ter governo chefiado por trabalhistas
Um partido de extrema-direita, contrário à imigração, foi o segundo mais votado e passa a ser a principal força da oposição
A Noruega deverá ter a partir de meados de Outubro o seu primeiro governo de coligação maioritária nas duas últimas décadas, depois de o bloco de centro-esquerda conhecido como "Vermelho e Verde" ter ganho as eleições legislativas de segunda-feira, com a promessa de gastar mais dinheiro em programas sociais, nomeadamente destinados a idosos. Mas também há a notar que o Partido do Progresso (PP), da extrema-direita, que estava a apoiar no Parlamento o Executivo cessante, conseguiu 22,1 por cento dos votos expressos, o que lhe vai dar 37 dos 169 deputados.O primeiro-ministro cessante, Kjell Magne Bondevik, reconheceu ontem a derrota da sua coligação de centro-direita e deverá passar daqui a um mês o testemunho ao líder do Partido Trabalhista, Jens Stoltenberg, que foi às urnas em associação com o Partido do Centro (agrário) e com a Esquerda Socialista, tendo este conjunto totalizado 88 lugares no Storting (Parlamento).
Os trabalhistas triunfaram graças à promessa de gastar uma maior parte dos recursos nacionais com a segurança social, tendo a afluência às assembleias de voto atingido os 76,1 por cento do eleitorado; uma recuperação em relação aos 75,5 das anteriores legislativas, em 2001. Mas mesmo assim ainda longe do fervor cívico de 1965, quando 85,4 por cento dos cidadãos foram às urnas.
Uma coligação inéditaBondevik, um pastor da Igreja da Noruega (luterana), de 58 anos, líder do Partido Popular Cristão (PPC), defendia o aumento da redução da carga fiscal, numa altura de grande prosperidade, conseguida com o petróleo do mar do Norte. E diz agora que se demite no dia 14 de Outubro, depois de apresentar o Orçamento do Estado para 2006, se até lá os três partidos da coligação "Vermelha e Verde", forem capazes de ultrapassar todas as divergências existentes entre si e de se apresentarem como uma frente unida, pronta a governar.
Stoltenberg, de 46 anos, filho de um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Thorvald Stoltenberg, iniciou ontem conversações com os seus parceiros, duas mulheres, sobre assuntos como saber se a Noruega deverá ou não permanecer na NATO. Com 32,7 por cento dos votos expressos, os trabalhistas conseguiram 62 dos 88 lugares da coligação vencedora (mais 19 do que os que tinham) e poderão assim tentar fazer prevalecer os seus pontos de vista nos temas sobre os quais existem opiniões diferentes, como uma eventual candidatura à União Europeia, da qual a maioria dos noruegueses se tem querido manter afastada, ou um possível aumento da quantidade de petróleo a extrair das águas territoriais, designadamente das do mar de Barents, no oceano Árctico.
Foi a primeira vez que o Partido Trabalhista, há muito a força política dominante do país, entrou em coligação com os centristas, de Aslaug Haga, e com a Esquerda Socialista, de Kristin Halvorsen, só isso lhe tendo dado a possibilidade de se perfilar para a formação de um governo maioritário, que garanta estabilidade.
Quanto ao líder do PP, Carl I. Hagen, que tem sido muito crítico em relação aos muçulmanos, e já chegou mesmo a compará-los a Hitler, dizendo que querem dominar o mundo, agradeceu aos seus seguidores po terem transformado o seu grupo na principal força oposicionista da Noruega, com mais 11 deputados do que os que obtivera nas eleições de 2001. O conjunto do PP com o PPC, os conservadores e os liberais - coligação de centro-direita - conseguiu 81 lugares, menos sete do que o bloco vencedor.