Expedição francesa encontrou fósseis de crocodilo gigante na Amazónia
A última missão científica à região altamente inacessível onde viveu este animal tinha sido feita em 1960
Uma viagem de piroga até ao coração da floresta amazónica do Peru à procura do esqueleto de um crocodilo com 20 metros, extinto há muitos milhões de anos. Não é o último filme de aventuras mas a expedição Fitzcarraldo. Cientistas franceses e peruanos conseguiram recolher qualquer coisa como 250 quilos de fósseis. O destino é de difícil acesso - a última vez que uma expedição científica se deslocou lá foi em 1960. Foi nessa altura que se encontrou o maxilar do Purussaurus, um crocodilo gigante que viveu há 20 milhões de anos e cujo crânio reconstituído se encontra no Museu de História Natural de Lima.
Desde então, a região do Arco de Fitzcarraldo ficou entregue a grupos indígenas e a guerrilhas do Sendero Luminoso. De tal forma que Stéphane Brusset, participante da expedição terminada na semana passada, não hesitou em fazer esta comparação: "O Arco de Fitzcarraldo é como Marte, ainda não o explorámos nada."
O principal objectivo era encontrar um esqueleto completo do crocodilo gigante, o que não foi possível. Ainda assim, os cientistas recuperaram uma mandíbula, um fémur e dentes que vão permitir reconstituir um espécime.
A zona é tão rica em fósseis que o paleontólogo François Pujo declarou à AFP que, "para os recolher, não escavámos, apanhámo-los." Foram encontrados fósseis de 30 espécies de vertebrados, incluindo seis de crocodilos, 13 de mamíferos como preguiças, tatus gigantes e herbívoros. E um achado único que intrigou os cientistas: o ouvido interno de um golfinho fossilizado, que viveu na zona há 15 milhões de anos.
A época do ano foi escolhida propositadamente: é em Agosto que os níveis de água são mais baixos, e deixam a descoberto as formações geológicas. Mas teve um inconveniente, porque obrigou os cientistas a empurrarem as pirogas, em vez de viajarem nelas. E mais do que os jaguares da zona, o perigo estava debaixo de água: as raias, cuja picada venenosa faz apodrecer o pé, disse o geólogo Patrice Baby, citado num comunicado de imprensa.
A expedição Fitzcarraldo faz parte de um projecto franco-peruano para compreender as condições ambientais da área há 20 milhões de anos. Para já, as descobertas parecem suportar a teoria de que a floresta amazónica foi em tempos um enorme mar interior. O rio Amazonas começou por correr para oeste e foi com a colisão da placa tectónica de Nazca, que originou a cordilheira dos Andes, que o fluxo ficou obstruído e terá dado origem a um grande corpo de água. Na ausência de outros predadores, o Purussaurus era aí o rei absoluto.
A cadeia montanhosa do Arco de Fitzcarraldo recebeu o nome de um famoso produtor de borracha do século XIX, que controlava a população indígena com mão-de-ferro. A sua história, já meio facto, meio mito, é contada do filme de 1982 Fiztcarraldo, de Werner Herzog. Estas montanhas estendem-se por 300 quilómetros e são perpendiculares aos Andes.