Junichiro KOizumi
Não é só pela sua aparência que o primeiro-ministro japonês costuma ser comparado com o actor americano Richard Gere. É também pela sua forma de actuar perante o público. Agora, Junichiro Koizumi está a ser acusado de fazer o papel de Oda Nobunaga, um herói do século XVI que unificou o Japão depois de décadas de lutas entre senhores da guerra; ficou também famoso por ter liquidado impiedosamente os seus inimigos. É sabido o quanto Koizumi o admira. A forma como correu com os deputados que votaram contra a privatização dos Correios (ler texto nestas páginas), que chamou de "velha guarda conservadora", ajuda a estabelecer a comparação.Ao contrário do que era tradicional no seu Partido Liberal Democrata (PLD), onde o primeiro-ministro é mais facilmente escolhido por saber negociar com as várias facções e estabelecer consensos, Koizumi tem-se distinguido pela sua forte personalidade e pela forma por vezes excêntrica de chegar aos eleitores. Fez-se o baluarte das reformas, construindo uma imagem que vários analistas afirmam ter mais de manipulação mediática do que feitos realizados.
Os japoneses não são cegos a todo o processo: chamam-lhe "Teatro Koizumi". Alguns jornais, como fez o Mainichi Shimbun, escreveram que a convocação de eleições antecipadas não foi uma forma de o primeiro-ministro combater a oposição, mas de "purificar o PLD e restaurar o seu controlo no partido".
"O estilo de Koizumi é impressionante", comenta à AP Tsuneo Watanabe, analista político do Instituto de Estudos Estratégicos Globais Mitsui. "Às vezes ele ignora completamente a lógica". Uma das cenas dramáticas da campanha eleitoral foi o próprio primeiro-ministro a dizer que não se importa de morrer (politicamente, entenda-se) pela aprovação da reforma dos Correios. "Algumas pessoas pensam que eu sou louco, mas eu realmente acho que sou são", disse num debate com os principais cinco líderes partidários. "Estou convencido de que o público japonês apoia os projectos de reforma dos Correios."