Ex-comandente de guerrilha hutu tomou posse como Presidente do Burundi
O êxito do seu mandato depende em grande parte do bom relacionamento que conseguir manter com o líder tutsi do Ruanda
O antigo comandante de guerrilha Pierre Nkurunziza, de 40 anos, tomou ontem posse como Presidente do Burundi, um pequeno país do interior da África onde 12 anos de guerra causaram 300.000 mortos, a partir de 1993. A cerimónia assinalou o fim de um processo encetado há cinco anos para acabar com o conflito entre os guerrilheiros hutus e um Exército que estava nas mãos da elite tutsi.De ora em diante, o poder deverá ser partilhado entre hutus e tutsis, tendo o novo Presidente prometido "combater toda a ideologia e actos de genocídio e exclusão". O Chefe de Estado cessante, Domitien Ndayizeye, afirmou tratar-se do "dia mais importante na História do Burundi", um território que é menor do que a Guiné-Bissau mas que tem mais de seis milhões de habitantes.
A Frente Democrática de Ndayiezeye foi derrotada nas eleições autárquicas e legislativas deste ano pelas Forças para a Defesa da Democracia, de Nkurunziza, que faz parte de uma nova geração de líderes africanos.
Rob Walker, correspondente da BBC em Bujumbura, a capital, explicou que o percurso do novo Chefe de Estado é deveras surpreendente, pois que ele era professor de Educação Física antes de ter ido para a guerrilha e agora foi eleito pelos deputados para dirigir os destinos do país.
Pierre Nkurunziza tem dito que a sua primeira tarefa será fazer com que o grupo rebelde ainda em actividade, as Forças Nacionais de Libertação, adira ao processo de paz.
Na véspera da tomada de posse, seis partidos essencialmente constituídos por tutsis afirmaram que o novo Presidente deveria ser julgado por crimes cometidos durante a guerra civil, o que dá bem uma idéia das feridas ainda por sarar.
Com efeito, em 1998 um tribunal condenou-o à morte, à revelia, mas veio a ser amnistiado graças aos acordos de paz; o que não quer dizer que consiga cumprir tranquilamente o seu mandato.
Em 1993, o primeiro Presidente hutu do país, Melchior Ndadaye, foi assassinado quatro meses depois de eleito; e o sucessor, Cyprien Ntaryamira, também hutu, morreu num desastre de avião, juntamente com o seu homólogo do vizinho Ruanda, Juvénal Habyarimana.
No seu lugar ficou o presidente da Assembleia Nacional, Sylvestre Ntibantunganya, que viria a ser deposto em 1996, quando tinha apenas 40 anos, como que a provar a extrema dificuldade de qualquer hutu se aguentar à frente do país.
Agora, a sobrevivência política de Nkurunziza está em grande parte dependente do bom relacionamento que conseguir manter com o Ruanda, dirigido pelo poderoso general tutsi Paul Kagamé, aliado dos Estados Unidos e de Israel.
O tecido social burundês e ruandês é idêntico: uma maioria hutu e uma minoria tutsi, tradicionalmente bastante poderosa, pelo que o que acontece num dos lados da fronteira tem sempre repercussão do outro lado.
Kagamé e mais cinco presidentes africanos estiveram ontem na tomada de posse, em Bujumbura.