Morreu Bob Moog, inventor do sintetizador electrónico
Um dos pioneiros
da música electrónica, Moog tornou o seu apelido inseparável
dos sintetizadores
No universo da música, Robert Moog é considerado um pequeno deus, apesar de não ter sido músico - é um mago das novas tecnologias aplicadas à música e sem este engenheiro norte-americano a música do século XX não teria sido igual. Morreu anteontem à tarde, aos 71 anos, na sua casa em Asheville, na Carolina do Norte (EUA), depois de, há quatro meses, lhe ter sido diagnosticado um cancro no cérebro. Foi em 1963 que Bob Moog deu origem a uma revolução na música ao criar o primeiro sintetizador analógico a um preço acessível - o Moog. O sintetizador é um instrumento musical de teclado capaz de criar sons: imita instrumentos musicais acústicos, sons da natureza, todo o tipo de ruídos concretos ou produz mesmo sons puramente electrónicos. O instrumento veio permitir aos músicos, primeiro no estúdio e depois em palco, gerar uma panóplia de sons rodando um botão ou ligando um interruptor.
No final do anos 70, é lançado o MiniMog - o primeiro sintetizador compacto, fácil de usar e portátil -, já depois de criada a empresa que tornou inseparável o apelido Moog dos sintetizadores. Actualmente, a manipulação electrónica do som é uma característica omnipresente na música popular, mas, antes do aparecimento dos sintetizadores Moog, não era assim, como escrevia ontem a Associated Press. Por causa dos seus vários contributos para o aperfeiçoamento dos sintetizadores, muitos chamam a Bob Moog o "pai da música electrónica". Em 2001, recebeu o Prémio Polar, considerado o Nobel da música sueco.
Foi Wendy Carlos, com o álbum Switched-On Bach, em 1968, vencedor de um prémio Grammy, que lançou o Moog, utilizando o instrumento em vez de uma orquestra. Os sintetizadores Moog foram usados por grupos tão diferentes como os Beatles, Kraftwerk, Doors ou por músicos de jazz como Herbie Hancock e Chick Corea. Mas foi com o rock progressivo, no início dos anos 70, com grupos como os Yes e os seus seguidores que o uso do sintetizador Moog se generalizou na música popular. Nas décadas de 80 e 90, com a explosão da denominada música de dança electrónica, Moog transformou-se numa figura de referência para as novas gerações.
Um novo som"Ele trouxe a música electrónica às massas e mudou a nossa maneira de ouvir música", disse ontem à AP Charles Carlini, um promotor de concertos de Nova Iorque. "De repente, havia todo um grupo de pessoas à procura de um novo som na música, e aquilo pegou muito depressa", contou o compositor Herbert Deutsch, professor emeritus na Hofstra University, que ajudou a desenvolver o protótipo do Moog. "Apareceu na altura certa", acrescentou.
"No meu tempo, os sintetizadores eram utilizados para imitar os instrumentos clássicos. Hoje, felizmente, já existe muita gente que compreendeu que pode extrair deles sons diferentes", disse há dois anos Bob Moog, numa conversa com o PÚBLICO. "A moderna tecnologia permite que cada um de nós possa fazer música em casa. Não é necessário ter um grande equipamento. Essa é a grande diferença em relação ao meu tempo. Com um computador e alguns instrumentos electrónicos, podemos gravar música com uma qualidade muito razoável em casa", acrescentou.
Em Abril, a revista Keyboard escrevia que os sintetizadores de Moog "alteraram o curso da música moderna" e "tornaram-se parte integrante da cultura musical".