Faro 2005 homenageia José Álvaro Morais
Retrospectiva e integral em DVD evocam cineasta que inscreveu o Sul como território dilecto na sua obra
Faro - Capital Nacional da Cultura 2005 promove, a partir desta noite e até dia 25, uma homenagem ao realizador e argumentista José Álvaro Morais, autor de obras como O Bobo e Quaresma, com uma retrospectiva no Teatro Municipal e nos cinemas Fórum Algarve e o lançamento da sua filmografia em DVD. A cerimónia oficial realiza-se esta noite, às 22h, no Teatro Municipal de Faro, com a apresentação de um catálogo sobre o cineasta, o pré-lançamento da sua obra integral em DVD, numa edição da Atalanta Filmes, e a exibição de O Bobo, a sua primeira longa-metragem, projecto ambicioso que o ocupou por mais de dez anos e que lhe valeu o Leopardo de Ouro, prémio máximo do Festival de Cinema de Locarno, em 1987. O tributo pretende evocar um realizador, falecido prematuramente em Janeiro de 2004, que inscreveu o Sul como território de ressonâncias míticas e literárias na sua filmografia, nomeadamente em Zéfiro (1994) e Peixe-Lua (2000) - mesmo que na sua obra final, Quaresma (2003), tenha sentido o apelo do Norte, filmando uma paisagem selvagem e desamparada entre a Serra da Estrela e a Dinamarca (olhando agora, em retropectiva, pode-se perguntar se esse "arrefecimento" geográfico seria já o pressentimento da fatalidade da doença prolongada do cineasta). São esses filmes, de uma obra relativamente curta, singular e algo bissexta, entre 1976 e 2003, que Faro 2005 vai exibir, por ordem cronológica, a par dos documentários Ma Femme Chamada Bicho, sobre o casal Vieira da Silva e Arpad Szenes, Cantigamente nº 3, rememoriação dos anos 40, e Margem Sul, versão mais curta, para televisão, de Zéfiro.
São também os filmes que integram os três DVD editados pela Atalanta, cujo lançamento oficial (e nacional) será a 2 de Setembro, dia do aniversário do cineasta, nascido em Coimbra em 1945. Dois filmes de escola que José Álvaro Morais fez no âmbito de um curso de realização em Bruxelas, onde foi aluno de André Delvaux, não foram localizados, e a curta-metragem, Dómus de Bragança, feita para a RTP, foi considerada desaparecida pelo próprio realizador. Os DVD incluem depoimentos de colaboradores e actores que trabalharam com Morais, como Agustina Bessa-Luís, Luís Miguel Cintra, Beatriz Batarda, Paula Guedes, ou David Streiff, ex-director do Festival de Locarno e ex-ministro da Cultura suíço, entre outros, alguns dos quais estarão presentes na cerimónia de homenagem, esta noite.