Combater a solidão num antigo cinema
Na Rua de Costa Cabral, outro espaço anima as terças e quintas-feiras à tarde da invicta, a Danceteria Júlio Dinis, onde, outrora, existiu um cinema. As paredes de madeira foram preservadas. A tela de projecção de filme deu lugar a um palco, onde o grupo musical convidado actua. A pista de dança tomou conta do espaço anteriormente ocupado pelas cadeiras de visionamento de filmes. Mais de cem pessoas animam o salão. De leque na mão, para afastar o calor, uma mulher de batom vermelho percorre a sala e senta-se numa cadeira de ferro, perto da entrada. Junto a ela, Carolina Mota espera que a convidem para dançar, enquanto conversa com uma amiga. "Não há malícia nos pedidos. Queremos é passar o tempo", salienta. "As danceterias são o lugar ideal para pessoas solitárias e que não sabem o que fazer ao tempo livre", adianta, dizendo, entretanto, que deixou a fisioterapia desde que dança. "Há muito que a minha terapia para a coluna são as danceterias."
Carolina Mota revela que já conheceu pessoas de outras cidades na Danceteria Júlio Dinis. "Vem gente de Famalicão e de Vila da Feira", explica, acentuando que há muitas pessoas que optam pela clandestinidade para frequentar as matinées dançantes. "Às vezes, as danceterias são uma espécie de refúgio. As pessoas que as frequentam procuram, muitas vezes, o carinho que não encontram nos seus lares." E encontram-no? Orquídea Martins, de 54 anos, esclarece: "Aqui fazem-se boas amizades e aprendemos a ouvir os outros". Enquanto fala, há um homem perfumado que aguarda, encostado à parede, que ela termine o discurso para "puxá-la" para dançar.
Actualmente, as tardes dançantes são um exclusivo das danceterias já referidas, mas nem sempre foi assim. António Justino, de 55 anos, explica: "Há um ano, havia outras sessões, à tarde, na danceteria Porto à Noite [no Centro Comercial Stop], mas o negócio aperta e, com duas danceterias na cidade, é difícil manter o negócio se a oferta não for melhor. Depois há alguns bailes que acontecem durante o ano".
À noite, a oferta de pistas dançantes é mais vasta do que durante as tardes. Mas também nesta matéria a pressão da concorrência se sente, como explica Joaquina Barbosa. "Os Bombeiros Voluntários Portuenses suspenderam os bailes de fins-de-semana. Já se sabe, é preciso saber cativar os clientes."