Pântanos com metano congelado da Sibéria estão a derreter e podem agravar aquecimento do globo
Cientista russo alerta para as consequências deste degelo para o efeito de estufa, devido à libertação de metano e dióxido de carbono
O maior reservatório subterrâneo de metano do planeta, que permanecia congelado há 11.000 anos, está a começar a derreter. Trata-se do pântano gigante de alcatrão da Sibéria ocidental, um milhão de quilómetros quadrados de uma espécie de lago de alcatrão congelado desde a última idade glaciar. Cientistas russos e britânicos alertaram ontem na revista de divulgação científica New Scientist para este problema e dizem temer que o metano agora libertado possa contribuir para acelerar o aquecimento global do planeta.O metano é um gás com um efeito de estufa 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono e o pântano na tundra siberiana, do tamanho de França e Alemanha juntos, acumulou durante milhares de anos 70 mil milhões de toneladas de metano, um quarto de todo o metano aprisionado no solo do planeta.
Trata-se de uma área inóspita, uma das menos visitadas do planeta, mas que tem sido uma das maiores vítimas do aquecimento global. Estima-se que na Sibéria ocidental as temperaturas médias tenham subido três graus nos últimos 40 anos. O aquecimento deverá ser causado por uma mistura de factores, que incluem alterações causadas pelo homem, uma mudança cíclica na circulação atmosférica conhecida como circulação do Árctico e as consequências do derreter dos gelos, que deixa oceanos expostos à luz do Sol, que produzem mais calor.
Apesar de este perigo ser conhecido pela comunidade científica internacional, o aviso de que algo de novo se estava a passar partiu de um botânico russo, Serguei Kirpotin, da Universidade Estadual de Tomsk, juntamente com Judith Marquand, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"É um desastre ecológico, provavelmente é irreversível e está sem dúvida ligado ao aquecimento global. Toda a região subárctica da Sibéria ocidental está a derreter-se, e tudo começou a acontecer nos últimos três ou quatro anos", disse Kirpotin à New Scientist. O que o que era uma imensa extensão de alcatrão congelado já apresenta lagos, alguns com um quilómetro de diâmetro.
Este aviso surge dois meses após um outro relatório que dizia que milhares de lagos na Sibéria oriental desapareceram nos últimos 30 anos. E nos territórios gelados do Alasca (no Norte da América), e do lado de lá do oceano Pacífico, está a acontecer algo semelhante.
"Este era um fenómeno esperado", diz Filipe Duarte Santos, físico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especialista em alterações climáticas e modelos de estudo do clima. "Estes fenómenos vêm confirmar que os modelos do sistema climático que defendem que o aquecimento global será maior nas latitudes elevadas, como o Árctico, estão certos."
O permafrost absorve mais calor do que o gelo de superfície ou a neve, ao contrário do que se possa pensar, e é mais afectado pelo aumento da temperatura.
Já no início deste ano uma equipa australiana, que coordena um projecto chamado Global Carbon Project, tinha dito que o permafrost é uma das principais causas de agravamento das alterações climáticas, precisamente pelos gases de efeito de estufa que pode libertar para a atmosfera ao derreter.
Filipe Duarte Santos explica ainda que a matéria orgânica presa durante milénios no permafrost, o solo gelado da tundra siberiana, entrará agora em contacto com o ar.
Se os pântanos secarem, à medida que forem derretendo, o metano vai reagir com o oxigénio do ar e escapar-se para a atmosfera como dióxido de carbono. Mas, se estas zonas pantanosas continuarem húmidas, como acontece hoje na Sibéria ocidental, o metano será directamente libertado para a atmosfera, onde terá efeitos mais potenciadores do efeito de estuda, sublinhou Karei Frei, da Universidade da Califórnia, citada pela New Scientist.