QUANDO OS OASIS FORAM CORRIDOS À GARRAFADA

Amanhã, os Oasis voltam ao local do crime.
Já não são sequer a maior banda da terra deles, estão mais velhos, mais tranquilos e desta vez
são cabeças de cartaz. Por Pedro Ribeiro

Em 2000, os Oasis eram a maior banda do mundo - bem, eram a maior banda do mundo na terra deles, o Reino Unido. Em Portugal, a sua popularidade não chegava para ser cabeça de cartaz no Festival do Sudoeste; quando tocaram no Alentejo pela primeira vez, vinham atrás dos Guano Apes no alinhamento.A coisa correu mal. Ao fim de meia dúzia de canções, os Oasis foram corridos à garrafada pela multidão do Sudoeste.
A vida não corria muito bem aos Oasis. Três dos membros fundadores da banda tinham-se afastado/sido sumariamente demitidos pouco tempo antes. Dos irmãos Gallagher, Liam tornara-se num saco de pancada da imprensa tablóide inglesa, e Noel decidira não tocar em concertos com o resto da banda. Sem o seu principal compositor/guitarrista/chefe de família Noel, os Oasis entraram em palco com Liam na sua persona habitual, imodesta e buliçosa. Aos primeiros acordes de Roll with it, a banda parou.
O baterista Alan White tinha-se levantado. Após uma mini-conferência com White, Liam berrou furiosamente para a audiência: "Viemos para aqui para tocar [palavrão] música, e se vocês [palavrão] não gostam, vamos para um sítio [palavrão] onde nos queiram ouvir, seus [palavrão, palavrão]!"
A organização explicou pelo sistema de som que a banda se retirara por estar a ser alvejada com garrafas de plástico e outros projécteis - uma curiosa tradição de grandes concertos em Portugal, que vem pelo menos desde uma lendária actuação dos Guns N" Roses em Lisboa.
A organização advertiu que, se continuassem "a atirar garrafas", a banda não voltava. O público naturalmente atirou ainda mais garrafas para o palco.
Os Oasis não voltaram. A maioria do público, que tinha vindo para os Guano Apes, não se pareceu importar muito. No dia seguinte, um porta-voz da banda culpou "um pequeno grupo de idiotas", que teria acertado em Alan White com uma pedra. Aliás, tinha acontecido uma coisa semelhante pouco tempo antes num concerto na Suíça, e o mesmo porta-voz queixava-se da imprensa por "encorajar esta actividade criminosa", ao criticar a banda por abandonar o palco, em vez de atacar "esses perigosos hooligans".
Na altura, um dos responsáveis pela organização do Sudoeste, Álvaro Covões, lamentou ao PÚBLICO o comportamento dos espectadores, mas também de Liam Gallagher: "Não posso deixar de dizer que a atitude dos Oasis em palco está errada. [Liam] falou com as pessoas ao pontapé, ninguém gosta disso. É tudo uma questão de atitude, de ter humildade."
Amanhã, os Oasis voltam ao local do crime. Já não são sequer a maior banda da terra deles, estão mais velhos, mais tranquilos, e desta vez são cabeças de cartaz. Sem garrafada.

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