Doping: cafeína continua fora da lista proibida

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George Gregan: «A maioria dos jogadores toma comprimidos de cafeína» Obed Zilwa/AP

Esta listagem, a que o PÚBLICO teve acesso, é actualizada anualmente por um comité específico da AMA, constituído por dez cientistas, divulgada em Outubro e entra em vigor no início do ano seguinte. Para já, a lista de 2006 encontra-se em fase de discussão. Foi enviada em Maio para os laboratórios e agências nacionais antidoping, que têm até ao final deste mês para fazer sugestões. Apesar de poder ser alterado na próxima reunião do comité executivo, por pressão política de alguns países ou da cúpula dirigente da agência, por enquanto este documento não contempla a cafeína na categoria dos estimulantes, que no próximo ano serão também proibidos em períodos extracompetições.

A cafeína foi retirada da lista proibida em 2004, porque o comité científico considerou-a como um estimulante menor, que para fazer efeito obriga ao consumo de grandes quantidades, e porque a sua utilização era cada vez menor e circunscrevia-se a algumas modalidades, em alguns países. Na listagem de produtos interditos actualmente em vigor, é referido que a cafeína está incluída no programa de vigilância, ou seja, os laboratórios antidoping, entre os quais o português, continuam a monitorizar um possível ressurgimento como dopante.

Precedente australiano

Foi na sequência deste programa que se descobriu que na Austrália se recorre de novo à cafeína. “É preocupante. O único laboratório no mundo que indica uma tendência um pouco preocupante é o da Austrália. Trata-se de uma substância que pensámos que não estava a usada para melhorar o desempenho porque é preciso tomar pelo menos doze chávenas de café ou engolir comprimidos para ultrapassar os limites [12 microgramas de cafeína por mililitro de urina]”, explicou em Maio o director-geral da AMA, David Howman, admitindo que os comité executivo e fundador da agência já discutiram esta questão.

O consumo de cafeína e de pseudoefedrina, retiradas da lista proibida na mesma altura, tornou-se público quando o capitão da selecção de râguebi da Austrália, George Gregan, revelou que “a maioria dos jogadores toma comprimidos [de cafeína] antes do jogo e isso sustenta-os até ao intervalo”, conseguindo-se “melhorar o desempenho em sete por cento”.

Gregan também disse que esta situação era do conhecimento do AIS. Este organismo promoveu dois estudos sobre o uso de cafeína: um sobre o consumo de seis miligramas por cada quilo de peso, uma hora antes das competições; outro analisando a ingestão de uma lata de Coca-Cola perto do final do exercício de resistência. “Há evidências de que a cafeína (…) providencia um pequeno, mas proveitoso melhoramento do desempenho em vários protocolos de exercícios”, afirma este organismo na apresentação das conclusões dos dois estudos.

Um outro estudo recente revelou que a introdução de cafeína nas bebidas energéticas aumenta até 26 por cento a absorção de carbohidratos. “Obtendo-se mais energia da bebida, usa-se menos das reservas corporais”, afirmou à AP o director do Laboratório de Performance Humana, da Universidade de Birmingham, Asker Jeukendrup. Neste trabalho não se mediu a influência da substância no desempenho dos atletas, mas Jeukendrup pretende aprofundar os estudos, controlando os exercícios, dieta, temperaturas e motivações dos atletas analisados.

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