HENRIQUE AMARO O professor da música portuguesa
Henrique Amaro ocupa uma posição surpreendente por ser tão única: é, em Portugal, grande divulgador da música portuguesa. Na Antena 3, onde está desde o início, realiza o programa Portugália (2ª a 6ª, das 21h às 22h), é responsável pela parte portuguesa da playlist, coordena a quinta-feira - dia nomeado Quinta dos Portugueses, em que apenas passa música feita no nosso país. Amaro é o ponto central de uma rosa dos ventos da música moderna feita em Portugal. Recebe maquetas, ouve discos, vai a concertos e reenvia as vibrações pelas ondas da Antena 3. Esta especialização foi "acidental". A única justificação que arranja foi ter começado a ter gosto pela música e poder de compra no chamado "boom do rock português" do início dos anos 80. "Música portuguesa a entrar em casa de todos os modos - pela TV, pela rádio, pelos jornais..." Com uma boa discografia, contactos de liceu em Queluz, entrou no mundo das rádios piratas, na Rádio Mais, da Amadora. E quando foi fazer um estágio na TSF - "essencial para a minha formação" -, a sua vida dirigiu-se para os media. Mas nunca se tinha imaginado a fazer da rádio a sua via profissional. Na sua "infância suburbana" em Tercena, na Linha de Sintra, Henrique Amaro, nascido em Moçambique em 1970, tinha como objectivo ser professor primário. Frequentou a escola do Magistério Primário, mas nunca chegou a exercer, pois no fim do 3º ano já estava na TSF. Após uma passagem pela turbulenta ex-Rádio Energia, do grupo TSF, surge então a Antena 3. Onde consegue, ainda hoje, sentir "uma mistura de um lado profissional e um lado privado e muito prazeroso", como diriam os brasileiros, também muito apreciados artisticamente. E quanto ao peso de ser o paladino da música portuguesa? "Sinto um peso nos ombros por lidar com música de músicos portugueses, com os quais me posso encontrar em cada esquina, e por perceber que a arte que eles fazem envolve uma série de emoções e trabalho. E também por sentir que estou numa empresa estatal que tem responsabilidades e que pode fazer uma série de actividades" em prol da música portuguesa. E é como factor que desencadeie essas actividades que Henrique Amaro gosta de ser encarado. "Eu gosto de, às vezes, ser um fio reactor para que isso aconteça." Quanto à playlist/programa de autor: "Tenho que ter em conta algo que sirva mais à rádio do que serve a mim." Não toca no Portugália nada de que não goste, mas inclui na playlist muitos temas com os quais não tem "qualquer afinidade", mas que aceita porque "a 3 tem que sentir o pulso à criação pop do país". E, sendo defensor do programa de autor, o que o assusta não é a playlist como instrumento, mas sim que a mesma demonstre "a não inclusão de novos artistas ou de variedade estética".