Descoberto primeiro planeta num sistema com três estrelas
A 149 anos-luz de distância da Terra
Até agora, pensava-se que os planetas extra-solares não se formariam em ambientes deste tipo
A realidade por vezes imita a ficção e o investigador Maciej Konacki não precisou de pensar muito para descrever a visão do céu de um habitante do planeta que acaba de descobrir. Seria como se estivesse em Tatooine, o planeta natal do viajante espacial mais famoso da saga Guerra das Estrelas, Luke Skywaker. Tal como no planeta imaginado, o pôr do Sol seria a triplicar. A estrela maior, semelhante ao nosso Sol, é amarela, a seguinte é laranja e a mais pequena, vermelha. É a primeira vez que se encontra um planeta extra-solar num sistema com três estrelas."Com três sóis, a vista celestial deve ser fora deste mundo, em sentido literal e figurativo", disse Maciej Konacki, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, num comunicado de imprensa desta instituição.
Mas a noite e o dia do planeta podem ser ainda mais complexos, disse o astrofísico Nuno Santos, do Observatório Astronómico de Lisboa. Por exemplo, se o planeta tiver sempre a mesma face virada para a estrela principal, como acontece com a Lua em relação à Terra, numa das faces seria sempre dia e na outra alternar-se-iam a noite e o dia. Mas tudo seria muito diferente da Terra, devido à passagem das duas estrelas secundárias.
O que é certo é que o ano corre depressa neste planeta, mais precisamente em 3,35 dias da Terra, o tempo que leva a completar uma órbita à estrela principal.
O grupo de três estrelas, com o nome HD 188753, está a 149 anos-luz da Terra, na direcção da constelação do Cisne. É ligeiramente maior que Júpiter, o gigante do nosso sistema solar, com 318 vezes a massa da Terra e 11 vezes o seu diâmetro. Quanto às outras duas estrelas, orbitam também a estrela principal. Estão todas a uma distância semelhante à existente entre o Sol e Saturno.
Para a comunidade científica, a descoberta é surpreendente. Embora os sistemas duplos e triplos de estrelas não sejam novidade na vizinhança do nosso sistema solar, até agora pensava-se que era impossível a existência de um planeta num ambiente desses. Por isso, os cientistas nem sequer procuravam ali planetas. Pensavam que a gravidade exercida por três estrelas não permitiria a agregação de matéria para formar um planeta.
A descoberta de Konacki, publicada na última edição da revista Nature, veio mostrar que, afinal, não é assim: "Planetas em sistemas solares complexos irão pôr à prova as nossas teorias sobre a formação planetária." Também Nuno Santos, pertencente à equipa dos suíços Michel Mayor e Didier Queloz - os primeiros investigadores a descobrir um planeta extra-solar, em 1995 - é da mesma opinião. "Desafia as teorias actuais, não as deita abaixo."
A detecção deste planeta, no observatório Keck, no Havai, pode vir a reescrever os compêndios de astronomia. "Mas ainda há muito a descobrir sobre a formação de planetas gigantes", refere Konacki.